sexta-feira, 22 de julho de 2011

Zadig, ou La Destinée


Zadig, ou O Destino, é uma famosa novela escrita pelo filósofo iluminista Voltaire em 1747. Ela conta a história um sábio da antiga Babilônia. O autor usa situações protagonizadas por Zadig para criticar   problemas sociais e políticos da França no século XVIII.

Zadig estava decepcionado com seu casamento e procurou se consolar fazendo alguma coisa nova. Deixou a sua esposa, que estava "difícil de aturar" e foi para uma casa no campo, onde se dedicou ao estudo dos animais e das plantas. Observava tanto que acabou por perceber "mil diferenças onde os outros só viam uniformidade".

Um dia ele entrou em apuros exatamente por isso. Estava passeando no bosque quando viu aproximarem-se, esbaforidos, um criado da rainha e vários oficiais. Os homens pareciam buscar algo muito valioso que havia sido perdido.

E com razão!

O criado logo perguntou se Zadig não havia visto o cachorro da rainha, que estava desaparecido. E Zadig logo corrigiu: não era cachorro e sim cadela. E continou falando: "é uma cachorrinha de caça que deu cria há pouco tempo; manqueja da pata dianteira esquerda e tem orelhas muito compridas".

Os homens disseram: "Viu-a, então?"

E Zadig respondeu: "Não. Nunca a vi e nem mesmo sabia que a rainha tinha uma cadela."





Na mesma época desapareceu o mais belo cavalo do rei e os perseguidores do cavalo, tão desesperados quanto os da cadela, perguntaram a Zadig se o havia visto passar. Zadig logo respondeu perguntando se era o cavalo que melhor galopava, se tinha cinco pés de altura e cascos pequenos, se sua cauda não media 3 pés de comprimento e se usava ferraduras de prata. Os homens confirmaram e perguntaram por onde o animal havia ido. E Zadig disse que nunca o havia visto.

Zadig foi preso, acusado de haver roubado a cadela e o cavalo dos soberanos. Mas, logo depois os animais apareceram. E os juízes resolveram ouvir as explicações de Zadig.

Zadig explicou que no caso da cachorrinha, havia percebido no chão pegadas de animal e logo vira que era de um cão. E observou também marcas leves e longas na areia entre os vestígios das patas, revelando que era uma cadela com tetas pendentes, que, portanto, havia acabado de dar cria. E outros traços no chão em sentido diferente, ao lado das marcas da pata dianteira mostravam o tamanho das orelhas em sua observação, da mesma forma que a profundidade diferente entre as impressões de uma pata e outra - levando-o a concluir que a cadelinha mancava... Explicou também que com o cavalo do rei usara o mesmo método.

O método de Zadig pode ser comparado ao método dos historiadores, que através de um esforço minucioso de decodificação e contextualização buscam descobrir a dimensão histórica das formas como os homens e mulheres vem pensando, produzindo e se relacionando ao longo do tempo.

(Adaptação livre da Introdução do livro Visões da Liberdade, de Sidney Chalhoub, editado pela Cia. das Letras - SP - em 1990).
O Trabalho do historiador ou como se constrói o conhecimento histórico

O primeiro ponto a destacar a partir deste texto é a atitude de investigação do historiador, que, a partir de uma questão, cria uma explicação e descreve um fato, ou a vida em uma época, a partir do estudo detalhado e cuidadoso dos vestígios (as fontes históricas) - "as pegadas da cadelinha" - que ele possui.

Assim, podemos qualificar um bom método de pesquisa histórica como um método quase "detetivesco". Mas, de um bom detetive, é claro (um "Sherlock Holmes" ou mesmo um “CSI”). São necessárias: uma boa pergunta, a elaboração de um bom plano de investigação; a atenção aos detalhes - inclusive os aparentemente secundários; e a observação com reflexão. Desta forma, o historiador pode descrever sociedades que nunca viu, a partir da interpretação e do estudo das fontes históricas. Assim como Zadig descreveu a cadela da rainha e o cavalo do rei...

A História à qual nos referimos é a História entendida como ciência social. Isto é: é o ramo do conhecimento dedicado ao estudo das ações dos homens em sociedade, ao longo do tempo.

Para esta visão de história, portanto, são fundamentais as noções de tempo e de espaço. Por que os homens agem desta ou daquela forma conforme o seu tempo e o seu espaço de atuação.

Assim, a história se interessa pela forma como os homens e as mulheres produzem, como distribuem sua produção, como eles se relacionam em sociedade, como são tomadas as decisões, como eles expressam a sua religiosidade e sua arte como pensam, enfim, por todos os aspectos de sua vida social.


Colo aqui algumas citações sobre o trabalho dos historiadores.





"O talento do historiador consiste em compor um conjunto verdadeiro com elementos que são verdadeiros apenas pela metade."Fonte - Vie de JésusAutor - Renan , Ernest



"O primeiro dever do historiador é não trair a verdade, não calar a verdade, não ser suspeito de parcialidades ou rancores."Fonte - De OratoreAutor - Cícero , Marcus



"Para mim, o romancista é o historiador do presente, enquanto o historiador é o romancista do passado."Fonte - Chronique des PasquierAutor - Duhamel , Georges



"Como Deus não pode alterar o passado, é obrigado a depender dos historiadores."Autor - Butler , Samuel



"Historiador - é um profeta voltado de costas."Autor - Schlegel , Friedrich



"Historiador: bisbilhoteiro em larga escala."Fonte - Dicionário do DiaboAutor - Bierce , Ambrose



"Os historiadores antigos deixaram-nos deliciosas ficções em forma de factos; o romancista moderno apresenta-nos factos entediantes em forma de ficção."Autor - Wilde , Oscar



"Os historiadores são pessoas que se interessam pelo futuro quando este já é passado."Autor - Greene , Graham



"O historiador é um mentiroso de boa fé."Autor - Nicole , Pierre


"O bom historiador escreve do passado, criticando o presente e projectando o futuro. Toda a história que vale é do futuro."Fonte - EspólioAutor - Silva , Agostinho



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Alberto Santos Dumont
Soldados brasileiros durante a Guerra do Paraguai

O Nascimento do Brasil

A Aventura Portuguesa nos Trópicos


Os séculos XV e XVI trouxeram muitas novidades para a Europa. Desde então, a América foi conquistada e passou a fazer parte do mundo ocidental.
Quando Cristóvão Colombo cruzou todo o Atlântico em buscas das especiarias e sedas indianas, não imaginava que acabaria esbarrando no paraíso, foi por isso que, ao aportar nas águas cristalinas das Bahamas, acabou decepcionado por não encontrar um só cachecol perfumado nos felizes habitantes do novo mundo, passando para a história sem aproveitar o néctar dos cocos caribenhos e muito menos a sombra das praias mais deslumbrantes do mundo. 


Diante do novo mundo (a América), as Coroas, Espanhola e Portuguesa tiveram, a princípio, atitudes diferentes. Os espanhóis avançaram para o interior em busca de ouro e prata - que efetivamente conseguiram numa verdadeira guerra de conquista. Já os portugueses preferiram "arranhar o litoral como caranguejos". Ali, no litoral, foram os primeiros a introduzir a escravidão na América.



Do Escambo à Escravidão

Durante as primeiras décadas do século XVI, Portugal se limitou a estabelecer feitorias (pontos de comércio) em suas terras da América. Como os metais preciosos não foram logo encontrados, as atenções se voltaram para uma madeira que servia para tingir tecidos na Europa: a ibirapitanga, depois denominada de pau-brasil.
Para desenvolver o comércio do pau-brasil, os comerciantes portugueses utilizaram a própria organização social dos povos nativos.
Para isso, os "brasileiros” (negociantes de pau-brasil) aprendiam a língua e faziam alianças com chefes nativos. Desta forma conseguiam que os chefes destacassem seus homens para cortar e transportar o pau-brasil. Em troca, forneciam-lhes objetos que os nativos valorizavam: espelhos, pentes e mesmo armas para combater seus inimigos. Este tipo de troca se denominava escambo.
A guerra entre diferentes tribos exercia importante papel na cultura dos povos nativos, em especial dos tupinambás. Era a partir dela que cada tribo definia suas principais características e as lideranças se afirmavam. Era também através da guerra que se conquistavam novos territórios ou se defendiam os já adquiridos.
Não foi difícil, portanto, que outros comerciantes europeus, especialmente os franceses, se aliassem a grupos indígenas inimigos dos que apoiaram os portugueses, para também explorarem o pau-brasil. Para os indígenas, estas alianças pareciam muito interessantes, já que os europeus com suas armas de fogo lhes prometiam apoio contra os seus inimigos.

A presença cada vez maior dos franceses fez com que Portugal percebesse que era necessário ocupar efetivamente suas terras na América. Pelo Tratado de Tordesilhas, assinado entre Espanha e Portugal, com apoio da Igreja Católica, a América, entre outros territórios, passou a ser dividida entre esses dois países. Como o rei francês não reconhecia esse tratado, permitia que os corsários do seu país continuassem a explorar o pau-brasil. Para conter a ameaça francesa, Portugal tratou de iniciar o processo de colonização das terras brasileiras.
Para tal, a Coroa Portuguesa resolveu estimular o cultivo da cana e a produção do açúcar em terras do Brasil. Colonos portugueses haviam obtido sucesso com este tipo de produção, usando trabalhadores escravos trazidos da África, nas ilhas do Atlântico mais próximas do Continente Europeu e Africano.
Os portugueses conheciam, portanto, a tecnologia necessária para construção de engenhos de açúcar, relativamente complexa para a época. Sabiam aproveitar-se, também, com sucesso, dos conflitos entre grupos africanos para conseguirem trabalhadores escravos. Os cativos africanos eram adquiridos através do escambo com as elites africanas aliadas às feitorias portuguesas.
Resolveu-se, então, adaptar esse modelo à América. A Coroa estimulou a vinda para a América de colonos portugueses com "cabedais", isto é, recursos para montar um engenho. Estes passaram a buscar alianças com nativos para garantirem sua segurança e conseguirem trabalhadores cativos. O prisioneiro de guerra indígena "resgatado" pelos portugueses se transformava em escravo (sendo salvo de ser comido por seus inimigos).
O canibalismo ritual era prática comum entre os tupinambás. Eles acreditavam que, desta maneira, comendo o adversário, o grupo herdava a coragem e outras qualidades do guerreiro inimigo.

Evitar o canibalismo foi a grande justificativa utilizada pelos colonos portugueses para escravizar o indígena. Essa razão foi aceita inclusive pelos missionários jesuítas que, por esta mesma época, chegavam à America Portuguesa com o objetivo de cristianizar os nativos.


Do Indígena ao Africano

Mas por que, para ocupar, era preciso escravizar?

Precisamos lembrar que o objetivo da colonização era fazer crescer, através do comércio ou de forma direta, o estoque de ouro e prata na Metrópole, conforme os ditames da política econômica da época, o Mercantilismo.
Para tal era necessário impulsionar o comércio com o Oriente e explorar as terras brasileiras. O que Portugal buscava na América era produzir em larga escala um produto de aceitação no mercado europeu. O colono português que se procurava atrair deveria ter recursos e contar com muitos trabalhadores.

Mas esses trabalhadores não poderiam trabalhar em troca de salários?

Não. Com a quantidade de terras disponíveis no Novo Mundo, os assalariados tenderiam a deixar a grande propriedade, tornando-se pequenos produtores agrícolas, voltados para a subsistência, ou seja, para o próprio consumo. Dessa forma quem trabalharia nas grandes fazendas?
O resgate de prisioneiros de guerra pareceu, aos primeiros colonos, o meio mais simples de obter mão-de-obra. A escravidão, mesmo que em pequena escala e em relativo declínio na Europa, ainda era uma prática vista como natural pelo colono português. Por esta época, 10% da população de Lisboa era composta de escravos africanos, ocupados no serviço doméstico.
A escravização indígena começou a apresentar problemas especialmente a partir das décadas de 1550 e 1560. Com o crescimento dos engenhos havia uma necessidade cada vez maior de mão-de-obra. Os padres jesuítas, no entanto, eram contrários à escravização em massa dos nativos e trataram de defendê-los.
Uma maneira utilizada pelos colonos para obter mão-de-obra para as fazendas foi estimular seus aliados indígenas cristianizados a atacar as aldeias rivais em busca de novos escravos. Os conflitos se tornaram mais freqüentes e violentos e até mesmo índios cristianizados, que viviam com os padres jesuítas, foram atacados.
Em finais do século XVI, os senhores de engenho já conseguiam grandes lucros com a produção do açúcar. Doenças provenientes da presença do europeu dizimavam escravos indígenas. Os grupos ainda não cristianizados ou escravizados, cada vez mais, optavam por marcharem para o interior.
Os padres jesuítas exigiam atitudes das autoridades coloniais.
Era o contexto ideal para que o tráfico de escravos africanos, pré-existente, se transformasse em mais uma promissora fonte de lucro para o comércio colonial português.

A Região da Grande Lavoura

Foi assim que uma região mercantil e escravista se consolidou no litoral da América Portuguesa. Ponto de partida do atual Brasil.
Seu coração era o litoral nordeste, especialmente Pernambucano e Bahia. Recife e Salvador tornaram-se portos importantes para a exportação do açúcar e o recebimento de escravos africanos e produtos europeus.
Derrubando florestas, espantando os animais, os engenhos produziam à plena carga. Neles, além do plantio e da colheita feitos por escravos, a cana também era beneficiada, transformando-se em cachaça, melaço, rapadura e açúcar.
Nessas grandes propriedades que eram os engenhos, os escravos trabalhavam de sol a sol. Também abriam caminhos para o transporte de cana, faziam este transporte e serviam como força para movimentar as moendas. Os bois e a água também eram usados para o funcionamento das moendas. Elas eram partes do setor de beneficiamento que ficava numa parte do engenho chamada
"casa-do-engenho", onde trabalhavam assalariados que conheciam as técnicas de produção do açúcar, posteriormente aprendidas também pelos escravos.
O senhor de engenho morava junto com sua família na Casa-Grande, onde trabalhavam os escravos domésticos. Os cativos que trabalhavam nas plantações eram, no final do dia, recolhido às senzalas (residências dos escravos), onde ficavam até o reinício do trabalho.

Em finais do século XVI, o escravo africano se tornava a base da expansão da cana-de-açúcar no Nordeste. No litoral nordeste do Brasil, Portugal inaugurou a Afro-América, que se expandiu posteriormente para outras áreas da América Colonial.
Consolidou também o Pacto Colonial, impedindo que suas colônias comerciassem com outros países. Desde então, deveria haver monopólio (exclusividade) comercial entre Portugal e o Brasil.

Desde então, a lavoura de exportação não cessou de se expandir no Brasil Colonial, exigindo sempre mais terras e mais escravos.
Por conta dela, desenvolveram-se as cidades portuárias, cresceram as necessidades de produção de alimento, se dinamizou o mercado interno e os interesses comerciais.
As fortunas acumuladas no comércio colonial repetidamente se transformaram em escravos e engenhos - fonte de todo o prestígio, no mundo colonial.
Uma sociedade ao mesmo tempo mercantil, aristocrática e escravista começava a se formar como produto da aventura portuguesa nos trópicos, a colônia chamada Brasil.









segunda-feira, 4 de julho de 2011

A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a um povo dissolver os laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno para com as opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.




Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objecto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos e instituir novos Guardiães para sua futura segurança. Tal tem sido o sofrimento paciente destas colónias e tal agora a necessidade que as força a alterar os sistemas anteriores de governo. A história do actual Rei da Grã-Bretanha compõe-se de repetidas injúrias e usurpações, tendo todos por objectivo directo o estabelecimento da tirania absoluta sobre estes Estados. Para prová-lo, permitam-nos submeter os factos a um mundo cândido.


Recusou assentimento a leis das mais salutares e necessárias ao bem público.


Proibiu aos governadores a promulgação de leis de importância imediata e urgente, a menos que a aplicação fosse suspensa até que se obtivesse o seu assentimento, e , uma vez suspensas, deixou inteiramente de dispensar-lhes atenção.


Recusou promulgar outras leis para o bem-estar de grandes distritos de povo, a menos que abandonassem o direito de representação no legislativo, direito inestimável para eles e temível apenas para os tiranos.


Convocou os corpos legislativos a lugares não usuais, sem conforto e distantes dos locais em que se encontram os arquivos públicos, com o único fito de arrancar-lhes, pela fadiga, o assentimento às medidas que lhe conviessem.


Dissolveu Câmaras de Representantes repetidamente porque se opunham com máscula firmeza às invasões dos direitos do povo.


Recusou por muito tempo, depois de tais dissoluções, fazer com que outros fossem eleitos; em virtude do que os poderes legislativos incapazes de aniquilação voltaram ao povo em geral para que os exercesse; ficando durante esse tempo o Estado exposto a todos os perigos de invasão externa ou convulsão interna.


Procurou impedir o povoamento destes estados, obstruindo para esse fim as leis de naturalização de estrangeiros, recusando promulgar outras que animassem as migrações para cá e complicando as condições para novas apropriações de terras.


Dificultou a administração da justiça pela recusa de assentimento a leis que estabeleciam poderes judiciários.


Tornou os juízes dependentes apenas da vontade dele para gozo do cargo e valor e pagamento dos respectivos salários.


Criou uma multidão de novos cargos e para eles enviou enxames de funcionários para perseguir o povo e devorar-nos a substância.


Manteve entre nós, em tempo de paz, exércitos permanentes sem o consentimento dos nossos corpos legislativos.


Tentou tornar o militar independente do poder civil e a ele superior.


Combinou com outros sujeitar-nos a uma jurisdição estranha à nossa Constituição e não reconhecida pelas nossas leis, dando assentimento aos seus actos de pretensa legislação:


para aquartelar grandes corpos de tropas entre nós;


para protegê-las por meio de julgamentos simulados, de punição por assassinatos que viessem a cometer contra os habitantes destes estados;


para fazer cessar o nosso comércio com todas as partes do mundo;


por lançar impostos sem nosso consentimento;


por privar-nos, em muitos casos, dos benefícios do julgamento pelo júri;


por transportar-nos por mar para julgamento por pretensas ofensas;


por abolir o sistema livre de leis inglesas em província vizinha, aí estabelecendo governo arbitrário e ampliando-lhe os limites, de sorte a torná-lo, de imediato, exemplo e instrumento apropriado para a introdução do mesmo domínio absoluto nestas colónias;


por tirar-nos nossas cartas, abolindo as nossas leis mais valiosas e alterando fundamentalmente a forma do nosso governo;


por suspender os nossos corpos legislativos, declarando-se investido do poder de legislar para nós em todos e quaisquer casos.


Abdicou do governo aqui por declarar-nos fora de sua protecção e fazendo-nos guerra.


Saqueou os nossos mares, devastou as nossas costas, incendiou as nossas cidades e destruiu a vida do nosso povo.


Está, agora mesmo, a transportar grandes exércitos de mercenários estrangeiros para completar a obra de morte, desolação e tirania, já iniciada em circunstâncias de crueldade e perfídia raramente igualadas nas idades mais bárbaras e totalmente indignas do chefe de uma nação civilizada.


Obrigou os nossos concidadãos aprisionados no mar alto a tomarem armas contra a própria pátria, para que se tornassem algozes dos amigos e irmãos ou para que caíssem em suas mãos.


Provocou insurreições internas entre nós e procurou trazer contra os habitantes das fronteiras os índios selvagens e impiedosos, cuja regra sabida de guerra é a destruição sem distinção de idade, sexo e condições.


Em cada fase dessas opressões solicitamos reparação nos termos mais humildes; responderam a nossas petições apenas com repetido agravo. Um príncipe cujo carácter se assinala deste modo por todos os actos capazes de definir um tirano não está em condições de governar um povo livre.


Tão-pouco deixamos de chamar a atenção de nossos irmãos britânicos. De tempos em tempos, os advertimos sobre as tentativas do Legislativo deles de estender sobre nós uma jurisdição insustentável. Lembramos-lhes das circunstâncias de nossa migração e estabelecimento aqui. Apelamos para a justiça natural e para a magnanimidade, e conjuramo-los, pelos laços de nosso parentesco comum, a repudiarem essas usurpações que interromperiam, inevitavelmente, nossas ligações e a nossa correspondência. Permaneceram também surdos à voz da justiça e da consanguinidade. Temos, portanto de aceitar a necessidade de denunciar nossa separação e considerá-los, como consideramos o restante dos homens, inimigos na guerra e amigos na paz.


Nós, por conseguinte, representantes dos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, reunidos em CONGRESSO GERAL, apelando para o Juiz Supremo do mundo pela rectidão das nossas intenções, em nome e por autoridade do bom povo destas colónias, publicamos e declaramos solenemente: que estas colónias unidas são e de direito têm de ser ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES; que estão desobrigados de qualquer vassalagem para com a Coroa Britânica, e que todo vínculo político entre elas e a Grã-Bretanha está e deve ficar totalmente dissolvido; e que, como ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES, têm inteiro poder para declarar a guerra, concluir a paz, contrair alianças, estabelecer comércio e praticar todos os actos e acções a que têm direito os estados independentes. E em apoio desta declaração, plenos de firme confiança na protecção da Divina Providência, empenhamos mutuamente nossas vidas, nossas fortunas e nossa sagrada honra.






John Hancock.



GEORGIA

Button Gwinnett, Lyman Hall, Geo. Walton.


CAROLINA DO NORTE

Wm. Hooper, Joseph Hewes, John Penn


CAROLINA DO SUL

Edward Rutledge, Thos Heyward, junr., Thomas Lynch, junr., Arthur Middleton


MARYLAND

Samuel Chase, Wm. Paca, Thos. Stone, Charles Carroll, of Carrollton


VIRGINIA

George Wythe, Richard Henry Lee, Ths. Jefferson, Benja. Harrison, Thos. Nelson, jr., Francis Lightfoot Lee, Carter Braxton


PENNSYLVANIA

Robt. Morris, Benjamin Rush, Benja. Franklin, John Morton, Geo. Clymer, Jas. Smith, Geo. Taylor, James Wilson, Geo. Ross


DELAWARE

Caesar Rodney, Geo. Read


NOVA IORQUE

Wm. Floyd, Phil. Livingston, Frank Lewis, Lewis Morris


NOVA JERSEY

Richd. Stockton, Jno. Witherspoon, Fras. Hopkinson, John Hart, Abra. Clark


NOVO HAMPSHIRE

Josiah Bartlett, Wm. Whipple, Matthew Thornton


BAÍA DE MASSACHUSETTS

Saml. Adams, John Adams, Robt. Treat Paine, Elbridge Gerry


RHODE-ISLAND E PROVIDENCE

C. Step. Hopkins, William Ellery


CONNECTICUT

Roger Sherman, Saml. Huntington, Wm. Williams, Oliver Wolcott