Quando os holandeses precisaram de um governador para suas possessões no Brasil, a Nieuw Holland, que tentaram construir no Nordeste, a escolha logo caiu sobre Maurício de Nassau, que já prestara excelentes serviços ao país, principalmente como militar.
Os livros de História do Brasil ressaltam a regência humana, a tolerância e o impulso que Nassau deu ao Nordeste até 1646.
A produção de açúcar desempenhou um importante papel no governo de Nassau.
Após uma tentativa frustrada de tomar Salvador e evitar a retomada de Pernambuco pelos portugueses, Nassau se dedicou a consolidar o domínio holandês e a recuperar a indústria açucareira, que sofrera os efeitos da guerra e da fuga de escravos e donos de moinhos.
João Maurício convidou os habitantes a voltarem, garantiu-lhes liberdade de culto, devolução de terras e engenhos e direitos iguais aos dos holandeses. Ao permitir a coexistência do protestantismo, catolicismo e judaísmo no Brasil, praticou uma tolerância que não havia na Europa das guerras religiosas.
A produção de açúcar e o comércio logo floresceram com os créditos que conseguiu junto à Companhia das Índias Ocidentais, modernas técnicas e a compra de escravos.
A única mácula na imagem humanista de Nassau foi seu engajamento em prol do tráfico de escravos. Por sua intervenção, os holandeses passaram a controlá-lo, depois de conquistar os postos na África, antes em mãos dos portugueses.
Recife e Mauricéia
Como Recife tornara-se pequena para a prosperidade, Nassau mandou secar os pântanos da ilha Antonio Vaz, ali construindo uma cidade completamente planejada. Três pontes uniam Recife a essa nova cidade, Mauricéia (Mauritsstad). Em Recife viviam as pessoas ligadas ao porto e ao comércio, na Mauricéia os holandeses, funcionários e ricos comerciantes.
Ali ele mandou construir seu palácio de Vrijburg (Friburgo). Por poucos anos, a atual capital pernambucana gozou do luxo e brilho de uma corte real européia.
Para isso muito contribuíram os artistas e cientistas que acompanharam João Maurício.
Seu trabalho deveria ressaltar os méritos do regente, passar a imagem de um Brasil rico e paradisíaco e servir de propaganda para a Companhia das Índias conseguir mais investidores. Independente disso, o príncipe de Nassau incentivou essas atividades por interesse próprio.
Um humanista nos trópicos
Maurício de Nassau embarcou com uma comitiva de pintores, artistas e cientistas. O resultado foram quadros, gravuras e desenhos únicos, mapas e levantamentos da fauna e flora brasileiras ricamente ilustrados.
Eles ajudaram a formar a imagem do Novo Mundo na Europa, numa época em que só havia relatos mais ou menos fantasiosos sobre os nossos índios canibais.
Entre os livros preciosos está o que Jean de Léry escreveu sobre os dez meses vividos entre os tupinambás, publicado em 1586 em Genebra – um dos poucos com visão etnográfica.
Muitas dessas obras de Georg Markgraf e Willem Piso, autores da Historia Naturalis Brasiliae (Amsterdã, 1648), a primeira obra científica sobre a natureza brasileira serviram de referência a estudiosos por mais de um século.
Desenhos da nossa flora e fauna feitos durante os anos de Nassau foram copiados, mesmo 100 ou 200 anos depois, como os peixes brasileiros magistralmente coloridos por Marcus Elieser Bloch, incluídos na "História Natural dos Peixes Estrangeiros", publicada em Berlim no século XVIII.
O declínio e a volta à Europa
Nassau era bem aceito pela população local, mas não o domínio holandês. Quando os donos de engenhos não puderam mais pagar os créditos, com a crise do açúcar no mercado mundial, a resistência tomou novo alento.
Por outro lado, a dependência total da colônia começou a sobrecarregar a Holanda, que não se via em condições de atender aos pedidos de Maurício de Nassau por mais soldados. A companhia acusava-o de desperdiçar recursos com suas construções e os custos de sua corte, o que a exposição documenta com uma lista de gastos exorbitantes da sua cozinha.
Nassau antecipou-se ao fim das aventuras holandesas em terras brasileiras, entregando o cargo e embarcando para a Europa em 6 de maio de 1644. E se confiarmos na descrição de Caspar Barlaeus, autor da história do Brasil sob a regência de Nassau, o príncipe teve uma despedida triunfal, recebendo inúmeras mostras de simpatia.