Karl May foi um autor significativo por formar a imagem do Oeste e do índio americano para diversas gerações de jovens alemães. Se tornou famoso com as aventuras vividas no Velho Oeste norte americano pelo cacique apache Winnetou e seu "irmão de sangue", o branco Old Shatterhand.
O escritor vivia numa época ávida por conhecimentos sobre o "exótico". As pessoas se aglomeravam para ver "nativos" nos shows etnológicos que transitavam pela Europa, organizados por pessoas como Buffalo Bill.
Era uma época de expedições científicas, expansão colonial, turismo e imigração.
Quatro milhões de alemães emigraram da Alemanha para os Estados Unidos durante o tempo de vida de Karl May (1842-1912). E todos os que abandonavam seu país o faziam com grande curiosidade pelo Novo Mundo.
Durante um certo tempo, May fingia ter vivido ele mesmo suas narrativas em primeira pessoa passadas na América, no Oriente e na África. Fotografias expostas na mostra de Berlim mostram o escritor posando para fotógrafos em seu estúdio nas proximidades de Dresden, cercado de peles de urso, um leão empalhado e outros animais selvagens que ele dizia ter matado com as próprias mãos.
Ele com certeza não hesitava em exagerar as coisas. "Old Shatterhand sou eu mesmo", escreveu May, apresentando como prova diversos rifles, também expostos em Berlim. Na verdade, o escritor mandara fazer essas armas em Dresden, obrigando o fabricante a jurar sigilo.
Diversas atividades fraudulentas, inclusive fazer se passar por policial ou médico para ganhar dinheiro, levaram o filho de um tecelão empobrecido a passar anos na prisão. Escrever era uma das poucas opções que restaram a May, impedido de estudar e de emigrar por causa de seus precedentes criminais.
A inclinação pelo fingimento voltaria a lhe causar problemas no fim de sua vida, quando a imprensa lançou uma campanha contra ele, a fim de desmascará-lo como charlatão. A pressão do público e a mudança de costumes o levaram a se distanciar das personagens ficcionais do início da sua obra e tentar se estabelecer como um escritor mais sério, preocupado com religião, utopias sociais e filosofia. Mas sua obra tardia jamais viria a ter a mesma popularidade que seus livros de aventura.
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