Os carros e os velhos de Montevideo
Os carros de Montevideo são diferentes. Não porque sejam de outras marcas, pois há de tudo o que temos no Brasil. A diferença está no jeito que eles dão no carro.
Os ônibus tem uma pintura, umas propagandas, um monte de coisas escritas, buzinas de corneta, pinduricalhos nos vidros, luzes, calotas especiais.
Descobri que existem várias cooperativas, e os motoristas são proprietários, por isso, dão o seu toque pessoal, assim como os caminhoneiros o fazem em seus veículos. Alguns são bem antigos, como os ônibus elétricos de três portas, adaptados para diesel, e aquelas Mercedes tipo caminhonete, com o motor na frente.
Os automóveis também têm um toque diferente, principalmente os mais antigos, que sofrem adaptações. É comum a gente cruzar na rua com Ford bigode, o modelo T de 1929, tipo sedã, calhambeque ou caminhãozinho. Há também Mercedes, Renault, e aqueles grandões americanos. Carros de todas as épocas, funcionando muito bem.Chamam a atenção aqueles minúsculos Renault, chamados de patinho feio. Hoje vi um amarelinho. Era o próprio patinho. Fiquei rindo da imagem.
Em pleno centro de Montevideo se vêem carroças. Há muitas fazendo a coleta de lixo reciclável. Os cavalos são enfeitados, os arreios têm muitos pinduricalhos, e as carroças são cheias de estilo, com placas, cordas, flâmulas, bandeiras, enfim, cada uma mais incrementada do que a outra, assim como os carros e ônibus.
E há lojas de peças, lanternas e faróis para todos esses carros. Parece que as coisas antigas são sempre renovadas, e estão no uso. Firmes no cotidiano.
Assim penso que há um conforto para os velhos uruguaios, que não perdem as referências materiais da história de suas vidas. Pode ser que alguns mais idosos sintam saudade das diligências. Eu que nem sou tão idoso cheguei a vê-las nos anos 70, lá em Rio Branco , na fronteira com Jaguarão, onde passava as férias com meu avô.
Penso que deve haver um conforto em saber que recebendo manutenção e sendo bem usado, a gente convive bem com o novo e tecnologicamente avançado.
E não são só coisas materiais, há também os valores. Percebi que palavras como honra, honestidade, amizade e lealdade ainda estão em voga.
Os velhos uruguaios são muito elegantes, muito dignos. Os que têm posses se engravatam. Há os que usam aquelas tipo borboleta, casacos com colete, ternos muito bem cortados, chapéus de feltro ou bonés de tweede. Fiquei admirando as roupas de casemira feitas por alfaiates, os quais se pode ver trabalhando pelas vitrines de oficinas. E nos senhores, o seu nobre corte.
Vi os velhos de Montevideo tomando seu café, em conversas animadas.
Os velhos parecem mais alegres do que os adultos, ou mais felizes. Talvez ainda não lhes cortaram as aposentadorias.
Os cafés da cidade velha são muito interessantes. Alguns ainda mantém a decoração centenária. Gostei muito do Café Brasilero e da Confeitaria Missiones.
Gostaria de ter fome e nervos para tomar dezenas de cafés por dia, saboreando esses ambientes e a companhia dos veteranos. Queria aprender sobre suas vidas, seus trabalhos, seus amores, seus projetos e pensamentos.
Acho que estou meio apaixonado pela alma uruguaia.
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