segunda-feira, 31 de maio de 2010

migrações no Brasil

A História mostra: em cada lugar do País há sempre um brasileiro de mala pronta para buscar um destino melhor. Na viagem, espalha velhas culturas, cria novas e ajuda a construir uma identidade nacional.

ESTE POVO NÃO PARA

O brasileiro é um povo migrante. Sai do Nordeste para Minas, de Minas para Pernambuco, de Pernambuco para São Paulo...

Vai aonde tiver trabalho e uma vida melhor. Vai de vontade própria ou nem tanto. E não se amedronta se o destino é bem longe e muito diferente do lugar onde partiu.

Vai aos seringais da Amazônia, às indústrias do Sudeste ou às frentes agrícolas do Centro-Oeste e do Norte. Fica, volta, vai de novo. E não vai sozinho: leva hábitos e costumes.

Ou seja: não é só imigração externa que faz a cara e o jeito de ser do povo brasileiro. As migrações internas também espalham velhas culturas, criam novas e costuram uma identidade nacional, profundamente marcada pela diversidade.

AS PRIMEIRAS CORRENTES

No Século XVIII, dezenas de milhares de pessoas chegam a Minas Gerais em busca de riqueza, mais especificamente do ouro, recém-descoberto. Uma parcela vem da lavoura açucareira do Nordeste, que está em crise, mas vêm muitos portugueses – cerca de 25% da população da metrópole.

Com a mineração, a população da colônia aumenta dez vezes em pouco mais de 90 anos. Meio século depois da descoberta do ouro, a região das Minas é a mais rica da colônia e tem uma ampla rede urbana.

A cidade de Ouro Preto torna-se, em uma década, o maior centro minerador de ouro da América e guarda até hoje tesouros como a Igreja Nossa Senhora do Pilar, construída entre 1711 e 1733, com ilustrações em ouro, e a belíssima Igreja de São Francisco de Assis, de 1766, com arquitetura de Aleijadinho, considerada revolucionária para a época.

O ouro começa a escassear no final do século XVIII, quando já desponta outra fonte de riqueza, primeiro no Rio de Janeiro, depois em São Paulo: o café. O cultivo atrai mineiros em busca do “ouro negro”.

FINAL DO SÉCULO XIX

A Amazônia vive um período de grande prosperidade, em conseqüência da valorização da borracha no mercado internacional.

“As cidades crescem, enriquecem e se transformam. Belém, no delta, e Manaus, no curso médio do Rio Amazonas, tornam-se grandes centros metropolitanos, em cujos portos escalam centenas de navios que carregam borracha e descarregam toda a sorte de artigos industriais”.

A região atrai então, cerca de meio milhão de nordestinos, que fogem de uma seca prolongada, na qual teriam morrido mais de 100 mil pessoas.

Ainda no fim do século XIX, nordestinos migram para o sul, atraídos pelo cultivo de erva-mate do Paraná ou pela pecuária do Rio Grande do Sul.

SÉCULO XX: DÉCADAS DE 1930 E 40

Depois que o café entra em crise, em 1929, aumentam os investimento na indústria, nas regiões Sul e Sudeste. A migração se intensifica.

Em 1934 e 1940, o Estado de São Paulo recebe cerca de 322 mil migrantes – 67% são da Bahia e de outros Estados nordestinos.

Começa o processo de urbanização da população: 31,24% vivem nas cidades em 1940. Nos dez anos seguintes, registra-se em São Paulo um saldo migratório (diferença entre os que chegaram e os que saíram) de 362 mil pessoas. Os migrantes são, na maioria, nordestinos, que chegam de pau-de-arara.

A partir da conclusão da rodovia Rio – Bahia, em 1949, o pau-de-arara tornou-se o principal meio de transporte dos nordestinos em suas migrações para o Sudeste. Era um caminhão com a carroceria coberta por varas longitudinais, comparado aos paus usados, no interior do Brasil, para transportar arara e outras aves, chamados paus-de-arara. Segundo Câmara cascudo, o termo foi dado pelos próprios nordestinos e passou a significar não só o caminhão, mas também o migrante.

O Paraná também é área de atração na primeira metade do Século. Em 1920, uma empresa inglesa, a Companhia de Terras do Norte do Paraná, compra terras do Governo, divide em lotes e vende a pequenos agricultores, a maioria vinda do interior paulista. Na década de 40, grandes e médios produtores paulistas se instalam no Paraná, e nordestinos e mineiros migram para trabalhar nas fazendas como assalariados.

DÉCADA DE 50

Intensifica-se o processo de urbanização: 36,16% da população vive nas cidades em 1950; em 1960, o índice sobre para 44,67%.

O Rio de Janeiro, ainda Capital Federal, é um importante ponto de destino de nordestinos que vêm para o Sudeste, procurando trabalho na construção civil e demais atividades tipicamente urbanas.

Juscelino Kubitschek assume a Presidência em 1956, dando início a um período de grande desenvolvimento em todas as áreas. Anuncia um governo com base no lema “Cinqüenta anos em cinco”. A construção de Brasília, inaugurada em 1960, é parte do plano e pede mão-de-obra para a construção civil. É preciso, também, criar sistemas rodoviários para comunicar a nova Capital Federal com outras regiões. Os trabalhadores – a maioria vinda de minas Gerais e do Nordeste – ficam conhecidos como candangos.

Como vocábulo africano, significava imperfeito, inferior, explica Câmara Cascudo. Mas o nome se modificou e passou a servir como título de honra, glorificando o operário de Brasília. “Os futuros intérpretes da civilização brasileira, ao analisar este período da nossa história, hão de deter-se com assombro ante a figura bronzeada desse titã anônimo, que é o candango, herói obscuro e formidável da construção de Brasília”, disse Juscelino, no discurso lido na nova capital, em 1960.

A outra corrente migratória expressiva da década é continuação da iniciada na década anterior, em direção à indústria paulista e à agricultura paranaense, ambas em fase de expansão.

DÉCADA DE 60

O Brasil deixa de ser rural para ser urbano. A população que vive nas cidades salta de 44,67% para 55,92%, no final da década.

É maior a concentração da pobreza nos núcleos urbanos. Aumenta o número de favelas, piora a qualidade de vida, principalmente para os migrantes.

“São Paulo, por exemplo, tinha uma grande oferta de empregos , mas era menor do que a procura. Começou, então, a surgir um núcleo e uma periferia na cidade. A periferia era a região mais pobre, com menos recursos e de onde era necessário fazer grandes viagens para chegar ao trabalho ou voltar para caso no fim do dia”.

As cidades passaram a ser um lugar de todos: dos que têm um trabalho urbano e dos que têm um trabalho rural. “Um bom exemplo disso são os bóias-frias, trabalhadores da cana-de-açúcar no interior de São Paulo. Apesar de trabalharem no campo, essas pessoas passaram a morar nas cidades, Acabou aquela imagem de casa da fazenda, em que moravam os funcionários e até o dono”.

Esta situação não é exclusiva de São Paulo. Mais de dois milhões de nordestinos e descendentes vivem em São Paulo. Sem dúvida, a maior cidade nordestina do Brasil”. Diz Neide Patarra. A população nordestina na cidade de São Paulo é maior que a do Estado de Sergipe, que tem 1,7 milhões de habitantes. O Rio de Janeiro também vive uma explosão demográfica, principalmente pela chegada de migrantes nordestinos. Entre 1970 e 1980, 11% da população do País mora no Rio de Janeiro e em São Paulo. E morar mal passou a ser fato comum nas grandes cidades. Dados de 1996 da Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de São Paulo constatam que 2 milhões de pessoas vivem em favelas na capital paulista. A reurbanização do Rio de Janeiro do fim do século XIX expulsou muita gente dos cortiços. O Cabeça de Porco, foi demolido em 1893. Os moradores mudaram-se para o morro da Providência. Em 1897, tropas vindas da Guerra de Canudos foram abrigadas nesse morro, chamado de favela – referência ao morro da Favela, de Canudos. O nome passou a designar o morro da Providência e, aos poucos, os conglomerados dos outros morros.

DÉCADA DE 70

Prossegue a urbanização da população. No final da década, é de 67,57% a população que vive nas cidades contra apenas 32,43% que vive no campo, numa inversão completa da situação de 40 anos antes.

No campo, mais de um milhão de migrantes seguem os planos de colonização do governo e partem rumo às fronteiras agrícolas. Gaúchos e paranaenses, principalmente, vão colonizar o Centro-Oeste e o Norte do país.

“Eles subiam aos poucos. Começavam no Centro-Oeste e, se não dava certo, iam para o Norte”, diz a professora Neide Patarra. Alguns atravessaram as fronteiras do País, pelo Mato Grosso do Sul e Paraná, e se instalaram no Paraguai.

nova busca

A partir de 1980, há uma intensificação na busca por cidades de médio porte, algumas do interior.

“As cidades de porte médio passaram a oferecer facilidades educacionais e de comunicações. Muitas fábricas investiram em cidades fora das metrópoles, que passaram a ter maior dinâmica econômica. E, se antes a migração era um fenômeno típico das classes baixas, hoje a saída da metrópole também é feita pela classe média. Muitos fogem da violência e da poluição de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo”.

Surge, também, a migração temporária. O migrante não vê a cidade destino como um lugar para viver pelo resto da vida. Há um contingente de pessoas que se movimenta constantemente, em um processo circular. Além de temporária, é uma migração de curta distância, ou seja, para cidades ou regiões próximas.

O turismo também pode acolher muitos trabalhadores. “Regiões como o Pantanal e o litoral brasileiro ainda crescerão muito por causa do turismo. Surgirão novos empregos”. E, onde há trabalho, há um brasileiro em busca de uma nova oportunidade, mesmo que o destino seja bem longe e muito diferente do lugar de onde partiu.

ATIVIDADES

Quando eu vim do sertão, seu moço

Do meu bodocó

A maleta era um saco

E o cadeado era um nó

Só trazia coragem e a cara

Viajando no pau-de-arara

eu penei

Mas aqui cheguei

Trouxe um triângulo, no matulão

Trouxe um gongê, no matulão

Trouxe a zabumba dentro do matulão

Xote, maracatu e baião

Tudo isso eu trouxe

no meu matulão

Da canção Pau-de-arara, de Guio de Morais e Luiz Gonzaga

O meu pai era paulista

meu avô pernambucano

o meu bisavô mineiro

meu tataravô baiano

vou na estrada há muitos anos

sou um artista brasileiro

Da canção Paratodos, de Chico Buarque

1. Procure no dicionário e copie no seu caderno o significado das palavras: migrante, imigrante, migrar, imigrar.

2. Desenhe ilustrações para os versos acima. Procure interpretar o sentimento dos migrantes.

3. Em seu caderno, faça um esquema apresentando cronologicamente o motivo e a direção das migrações ao longo do tempo. ( localização no tempo e no espaço )

4. Faça mapas das migrações. Um para cada século. Desenhe os contornos do mapa do Brasil em uma folha e localize com linhas e flechas as regiões de saída e destino das migrações.

5. Pesquise sobre sua família. Descubra se há migrantes entre seus parentes e ancestrais, o destino e o motivo das migrações.

6. Redação: comente sobre as migrações, pessoas que migraram e se há em seu projeto de vida a intenção de sair do Rio de Janeiro.

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