quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Brasil Republicano


A EXPANSÃO CAFEEIRA 
E O CRESCIMENTO INDUSTRIAL 
NA PRIMEIRA REPÚBLICA



Durante o II Reinado (1840-1889), o império brasileiro sustentou-se no "império do café". Veio a República e o "rei café" pemaneceu, agora com a semente do progresso, em tempos de nova ordem. O café trouxe máquinas modernas, indústrias, bancos, ferrovias, grandes negócios, mas sobretudo  divisas, na condição de principal produto de exportação do país.

Ao terminar o século XIX o Brasil controlava o mercado cafeeiro mundial. O café era símbolo do país no exterior.

1. A EXPANSÃO CAFEEIRA:

Percorrendo o trajeto do Rio de Janeiro a São Paulo, 1822, o botânico francês  Auguste de Saint Hilaire constatou  a penetração da lavoura cafeeira no vale do Paraíba. A nova cultura, que recobria a cidade do Rio de Janeiro desde o final do século XVIII, começava a avançar pelo território fluminense e paulista.

Entre 1830 e 1870, a região do vale do Paraíba fluminense e paulista foi a grande produtora de café no Brasil. No Rio de Janeiro, Vassouras era uma das cidades cafeeiras mais importantes.

Penetrando pelo vale do Paraíba, a onda verde dos cafezais chegou ao oeste paulista e à Zona da Mata de Minas Gerais. A partir de 1870, o processo de expansão da lavoura cafeeira ganhou um poderoso impulso e transformou estas áreas no centro dinâmico da economia brasileira. Ao mesmo tempo, ocorreu um processo inverso de decadência da produção de café no vale do Paraíba.

As razões desse declínio foram, principalmente, a escassez de terras próprias para o cultivo, o esgotamento das reservas naturais por um sistema de exploração descuidado e os métodos de desmatamento sem limites. A cultura do café, predatória e intinerante, foi assim avançando, com os fazendeiros prosseguindo na derrubada de imensas florestas virgens, ricas em madeiras.

Inicialmente o transporte do café, como os demais produtos agrícolas do país, era feito no lombo do burro. As despesas com o transporte das tropas, por caminhos cada vez mais distantes, exigia a introdução das ferrovias. Assim, a expansão cafeeira motivou profundas transformações nos transportes, com a implantação das primeiras estradas de ferro.

Em São Paulo e Minas Gerais, as ferrovias anunciavam a fronteira verde. Junto delas surgiam cidades.

A expansão cafeeira resultou, portanto, na ampliação das plantações e na multiplicação dos municípios. No estado de São Paulo, apenas na última década do século XIX, foram criados 41 municípios, em regiões de povoamento recente.

Para garantir trabalhadores para esta acelerada expansão, a solução encontrada pelos cafeicultores paulistas foi contar com o governo para incentivar a vinda de imigrantes para o trabalho nos cafezais da região. O Estado de São Paulo e depois o próprio governo da União, tendo em vista a supremacia dos interesses da cafeicultura paulista nele, financiavam a passagem para o Brasil, a hospedagem e a viagem de famílias de imigrantes, especialmente italianos. Já no século XX, também as famílias de japoneses viriam em grande número para a lavoura cafeeira da região.

Em São Paulo, o sistema de trabalho adotado nos cafezais foi o colonato. Compreendia uma remuneração fixa para a família de colonos pelo trato de um determinado número de cafezais, uma remuneração que variava de acordo com o número de pés de café colhidos e o direito ao plantio de uma roça e à criação de pequenos animais dentro da propriedade cafeeira.

Já a expansão cafeeira em Minas Gerais e nas áreas mais novas do Estado do Rio de Janeiro se beneficiou do esvaziamento das antigas áreas cafeeiras do Vale do Paraíba e contou preferencialmente com famílias de trabalhadores brasileiros. O sistema de trabalho adotado nestes estados foi a parceria(que dividia os resultados da colheita com a família do colono, em geral deduzindo as despesas feitas pelo proprietário). Também a parceria previa o direito da família de trabalhadores ao plantio de uma roça e à criação de pequenos animais dentro da propriedade cafeeira.


2. CRESCIMENTO INDUSTRIAL E URBANIZAÇÃO:

Na fase republicana, o café foi também o principal responsável pelas rendas do governo federal, quase toda advinda do imposto de exportação. A supremacia das oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais na política dos governadores fazia com que, de fato, se confundissem os interesses dos cafeicultores e os interesses do país.

A condição de quase monopólio que o Brasil detinha a nível mundial permitia que o Estado comprasse os excedentes da produção cafeeira, em caso de superprodução, evitando a baixa dos preços internacionais. Este expediente, adotado pela primeira vez em 1906, seria repetido por várias vezes por toda a Velha República. Isto fazia da cafeicultura verdadeiramente um negócio da China.

Esta prosperidade da economia cafeeira teve efeitos multiplicadores. Direta ou indiretamente, o crescimento urbano e industrial do país, concentrado nas áreas cafeeiras desde meados do século XIX, tem a ver com a onda verde dos cafezais e, em especial, com as atividades de comercialização deste produto.  Em 1907, as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo já reuniam 49% (33% no Rio de Janeiro e 16% em São Paulo) dos estabelecimentos industriais do país.

O comércio em expansão fez crescer as cidades, e ao seu lado vieram os bancos. O aumento populacional e a infra-estrutura urbana que se formava permitiram o surgimento de mercados locais que, desde o final do século XIX, fizeram surgir inúmeras pequenas manufaturas. Muitas empregavam máquinas e algumas dezenas de trabalhadores.

As origens da indústria no Brasil nos levam a um período anterior a 1888/89 e, portanto, dentro da sociedade escravista do século XIX. Nas primeiras fábricas brasileiras, trabalhavam, muitas vezes ao lado dos operários livres, um número considerável de escravos.

No último ano da Monarquia, em 1889, havia cerca de 600 estabelecimentos industriais e o capital estava distribuído sobretudo nas indústrias de tecidos, de alimentos, produtos químicos, vestuário, madeira e metalurgia.

Na década seguinte, 1890-1899, ocorreu a primeira expansão industrial significativa. Passamos a importar menos produtos de consumo leve, como vestuário, alimentos, tecidos, etc., e mais máquinas e equipamentos industriais. O setor têxtil foi a base da indústria nesse período. As grandes indústrias da Primeira República seriam, principalmente, do ramo de tecidos.


Ao mesmo tempo em que proliferavam as manufaturas, formavam-se impérios industriais. Grandes fazendeiros de café entraram para a atividade fabril, aplicando o capital excedente dos lucros do comércio do produto. Cafeicultores de São Paulo, como os Prado e os Oliveira Penteado, chegaram ao século XX, dedicando-se a bancos, fábricas de vidro, costumes e tecelagens. Prósperos comerciantes também começaram a participar das atividades industriais, como o carioca Eugênio Mariz de Oliveira, que dirigiu a Tecelagem Votorantim em São Paulo.

Outros grandes capitães de indústria eram imigrantes que nunca precisaram passar pela enxada ou pela fábrica. Deviam sua fortuna inicial ao comércio, sobretudo de importação.

A ação urbanizadora do café permitiu também a modernização das grandes cidades. Nelas surgiram bancos e ampliaram-se os portos e os serviços urbanos.

O aparecimento das grandes cidades, à medida que avançada o processo de urbanização, exigia a realização de uma série de obras - transportes, luz elétrica, água e esgoto, etc. - para cuja execução tornavam-se necessárias grandes somas de recursos, obtidos basicamente por meio de empréstimos externos (obtidos fora do país).

Muitos dos serviços de grande vulto, ligados à infra-estrutura urbana que ia urbana se desenvolvendo, pertenciam a empresas estrangeira. Uma delas era a canadense Light e Power Co., proprietária de companhias de gás, água, esgotos, luz e energia elétrica, transportes urbanos e telefones, no Rio de Janeiro e São Paulo. A luz elétrica substituía o lampião a gás, enquanto o bonde apresentava o burro.

Um slogan da época do Império dizia: "o café dará para tudo". O Brasil tornou-se uma República e o café se afirmou como principal produto econômico do país.

Expandindo-se em ondas verdes os cafezais ocuparam enormes territórios no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e outros estados. Daí surgiu uma nova classe dirigente, mais poderosa que os antigos barões do açúcar. Na sua marcha, o café foi criando cidades e fazendo fortunas.

O processo de crescimento urbano e industrial esteve, sem dúvida, em grande parte, associado aos caminhos que o café percorreu na região centro-sul do país.

O crescimento das atividades industriais, na Primeira República, ocorreu dentro de um país agrário: uma república de plantadores.

Sem perder suas características agrárias, somente a partir dos anos 30, o país viveria um processo de industrialização efetivo, promovido em boa parte pelo próprio Estado.

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