· O Sistema Manufatureiro na Inglaterra do século XVII
É Sábado. Mal o dia começa e a cidade já se agita numa movimentação incomum. Ao longo da rua principal (Briggate) improvisam-se tablados, toscas barracas de madeira. Sobre elas os artesãos vão arrumando peça e mais peça de lã. Seu trabalho começara muitas horas antes. Ainda era noite escura quando toda a sua família juntara o tecido feito durante a semana, arrumando-o sobre as mulas ou carretas e dirigira-se à cidade (os artesãos em geral vivem no campo).
Às sete horas da manhã os sinos da igreja ecoam pela cidade inteira: é o sinal para o início dos trabalhos. Em pouco tempo a rua enche-se de gente. Os comerciantes e seus empregados passeiam por entre as barracas, examinam as mercadorias, escolhem, distribuem, discutem o preço, compram. Em pouco tempo a Briggate torna-se pequena demais para abrigar tanto movimento. O comércio ganha as outras ruas, praças, tavernas, toda a cidade transforma-se num grande mercado. Porque hoje é sábado: dia de feira de lã em Leeds. A agitação continua por todo o dia. A calma só volta com a noite. Então, desfeitas as barracas, os artesãos retornarão ao campo, para preparar novas peças de lã, que serão vendidas no próximo sábado.
Tal cena repetia-se toda a semana na cidadezinha de Leeds, no norte da Inglaterra, no século XVII. E não só aí, mas também em muitas cidades inglesas, pois era a lã a grande riqueza do país, nesse período. Sua produção e seu comércio ocupavam grande parte da população. A cidade se torna grande ponto de encontro para as trocas comerciais.
Nas primeiras fases do estabelecimento da manufatura de lã, não havia indústrias. A produção de lã se fazia em sistemas familiares, por processos artesanais. A família inteira dedicava-se ao trabalho, no sistema doméstico de produção: um destrinchava a lã bruta, outro tingia, outro penteava. Começava-se a divisão do trabalho e a intensificação do comércio.
Com o tempo, a técnica foi aprimorada e a divisão do trabalho aumenta, fazendo crescer também a produção. Até que o surgimento da indústria veio marcar o século XVIII e trazer mudanças econômicas e sociais.
· As condições de uma Revolução
Três fatores foram essenciais ao aparecimento da Revolução Industrial na Inglaterra:
ü Mão-de-obra disponível: Trabalhadores não faltavam. Havia os antigos camponeses empregados na manufatura. E mais: grande número de pequenos proprietários rurais empobrecidos e levas e mais levas de camponeses expulsos dos campos pelos “cercamentos” (enclosures).
ü Acumulação de capital: Capital também era abundante. Tinha-se acumulado progressivamente nas mãos de banqueiros e comerciantes, desde a grande expansão comercial, através dos saques, pirataria e tráfico de escravos e mercadorias (é a chamada acumulação primitiva de capital). E, afinal, dos metais preciosos do Novo Mundo. O monopólio comercial imposto pelos colonizadores estabelecia que os produtos retirados da América como os metais preciosos fossem para a metrópole. Quem mais se beneficiou com o ouro e a prata da América foi a Inglaterra, que se beneficiou com alguns tratados com outros países, como o Tratado de Methuen[1] com Portugal.
ü Disponibilidade de recursos naturais: Os recursos naturais, como o carvão mineral, também eram fáceis de obter, pois muitos vinham das colônias inglesas e dos países que comerciavam com a Inglaterra a baixos preços.
· A Fábrica
As fábricas do início da Revolução Industrial não apresentavam o melhor dos ambientes de trabalho. As condições das fábricas eram precárias. Eram ambientes com péssima iluminação, abafados e sujos. Os salários recebidos pelos trabalhadores eram muito baixos e chegava-se a empregar o trabalho infantil e feminino. Os empregados chegavam a trabalhar até 18 horas por dia e estavam sujeitos a castigos físicos dos patrões. Não havia direitos trabalhistas como, por exemplo, férias, décimo terceiro salário, auxílio doença, descanso semanal remunerado ou qualquer outro benefício. Quando desempregados, ficavam sem nenhum tipo de auxílio e passavam por situações de precariedade.
Os trabalhadores reagiam das mais diferentes formas, destacando-se o movimento "ludista" (o nome vem de Ned Ludlan), caracterizado pela destruição das máquinas por operários, e o movimento "cartista", organizado pela "Associação dos Operários", que exigia melhores condições de trabalho e o fim do voto censitário. Destaca-se ainda a formação de associações denominadas "trade-unions", que evoluíram lentamente em suas reivindicações, originando os primeiros sindicatos modernos. O divórcio entre capital e trabalho resultante da Revolução Industrial, é representado socialmente pela polarização entre burguesia e proletariado. Esse antagonismo[2] define a luta de classes típica do capitalismo, consolidando esse sistema no contexto da crise do Antigo Regime.
· Desdobramentos Sociais
A Revolução Industrial alterou profundamente as condições de vida do trabalhador braçal, provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades, com enormes concentrações urbanas. A produção em larga escala e dividida em etapas irá distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores irá dominar apenas uma etapa da produção. Na esfera social, o principal desdobramento da revolução foi o surgimento do proletariado urbano (classe operária), como classe social definida. Vivendo em condições deploráveis, tendo o cortiço como moradia e submetido a salários irrisórios com longas jornadas de trabalho, a operariado nascente era facilmente explorado, devido também, à inexistência de leis trabalhistas.
O desenvolvimento das ferrovias irá absorver grande parte da mão-de-obra masculina adulta, provocando em escala crescente a utilização de mulheres a e crianças como trabalhadores nas fábricas têxteis e nas minas. O agravamento dos problemas sócio-econômicos com o desemprego e a fome, foram acompanhados de outros problemas, como a prostituição e o alcoolismo.
· Alguns destaques
Adam Smith à pensador escocês que questionava o benefício da indústria, o individualismo e o espírito de competição capitalista, o progresso econômico, o que o governo deveria fazer. Adam Smith foi considerado um liberal[3] pelas idéias que sustentava.
Thomas Malthus à Economista inglês acusava os próprios pobres de causarem sua pobreza por terem muitos filhos e não ter como alimentá-los. Assim a população aumentava mais que a quantidade de alimento, era o que acreditava. O que o governo deveria fazer? Para Malthus, nada. Por que com o apoio do governo (hospitais para pobres, aposentadoria para velhinhos, proteção para órfãos) a população iria crescer mais. Malthus acreditava que os ricos eram os responsáveis pelo desenvolvimento da economia pois investiam capital patrocinando artistas e inventores, logo, cobrar impostos deles para ajudar as classes pobres atrasaria o progresso da humanidade. O Parlamento Inglês tinha idéias semelhantes, acreditando que a ajuda do governo aos pobres só estimularia a preguiça.
O aço àHavia muito carvão na Europa e os mineiros começaram a extraí-lo. O carvão servia de combustível para as máquinas a vapor recentemente inventadas. Também podia ser aquecido e transformado em «coque», que é um combustível muito mais limpo (ideal para obter ferro e aço).
Aproximadamente na metade do século XIX, um homem chamado Henry Bessemer inventou o princípio do «alto-forno», que podia produzir grandes quantidades de aço de forma bastante econômica. Em breve a Europa produzia grandes quantidades de aço, o que mudou o mundo! O aço barato permitiu construir arranha-céus, grandes pontes, transatlânticos, automóveis, frigoríficos, etc., mas também poderosas armas e bombas.
· Conclusão
A Revolução tornou os métodos de produção mais eficientes. Os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, aumentou também o número de desempregados. As máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão-de-obra humana. A poluição ambiental, o aumento da poluição sonora, o êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades também foram conseqüências nocivas para a sociedade. Até os dias de hoje, o desemprego é um dos grandes problemas nos países em desenvolvimento. Gerar empregos tem se tornado um dos maiores desafios de governos no mundo todo. Os empregos repetitivos e pouco qualificados foram substituídos por máquinas e robôs. As empresas procuram profissionais bem qualificados para ocuparem empregos que exigem cada vez mais criatividade e múltiplas capacidades. Mesmo nos países desenvolvidos têm faltado empregos para a população.
· Alguns conceitos
Proletariado à indivíduo que trabalha em ofício manual ou mecânico em troca de salário, e deste salário vive.
Revolução Industrial Primeira Fase (1760 a 1860) à basicamente limitada à Inglaterra, com o desenvolvimento da indústria de tecidos de algodão e aperfeiçoamento das máquinas à vapor.
Revolução Industrial Segunda Fase (1860 a 1900) à espalha-se pela Europa, Estados Unidos e Japão. Principais inovações tecnológicas: utilização do aço, aproveitamento de energia elétrica e dos combustíveis petrolíferos, invenção do motor a explosão, da locomotiva e do barco à vapor e desenvolvimento de produtos químicos.
Ludismo à o ludismo foi uma das primeiras formas de luta dos trabalhadores. Para os artesãos o ludismo os preservava da concorrência da indústria moderna, sem máquinas eles teriam mais trabalho. Para os camponeses evitaria que as máquinas substituíssem seus empregos. E para os operários dessas fábricas era uma forma de pressionar o patrão a aumentar o salário. Pela característica destrutiva do movimento ludista, os patrões muitas vezes desistiam de reduzir o salário com medo que destruíssem sua fábrica. Porém o governo inglês criou leis e protegeu as fábricas contra os ludistas podendo até enforcar os operários rebeldes. Com o passar do século foram surgindo os sindicatos e a greve como forma de luta.
Cartismo à movimento importante porque permitiu ao proletariado alcançar consciência política. O proletariado não tinha força no governo porque não votava; somente os indivíduos com altos rendimentos poderiam votar. Então, a partir da década de 1830 os cartistas (operários, artesãos e alguns da pequena burguesia) se reuniam em comícios (reunião pública de cidadãos para tratar de assunto de interesse geral ou propaganda de candidatura a cargo eletivo), redigiram a Carta do Povo (por isso o nome cartismo) e a enviaram ao Parlamento inglês. Sua principal reivindicação era o sufrágio universal masculino (o direito de voto para todos os homens). Em 1867, operários especializados e a pequena burguesia conquistaram o direito ao voto.
Referências bibliográficas
SCHMIDT, Mário Furley. Nova História Crítica. Sétima série. São Paulo: Editora Nova Geração, 1999.
COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Brasil – Da Independência aos dias atuais. 9ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 1996.
http://www.suapesquisa.com/industrial/
http://www.historianet.com.br [1] Tratado de Methuen: Tratado entre Portugal e Inglaterra envolvendo as trocas comerciais de vinho e tecidos.
[2] Antagonismo: Oposição, neste caso, entre a burguesia e o proletariado.
[3] Liberal econômicoà O Estado não deve intervir na economia, se preciso for, que seja o mínimo. Assim investimentos e comércio estariam liberados, funcionando de forma que a economia progredisse harmoniosamente.
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