quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

aula ETNOCENTRISMO NA FORMAÇÃO DO BRASIL - a valorização de uma cultura desvalorizando a outra



Nas terras que hoje formam o Brasil viviam, há milhares de anos, diversos povos indígenas. Na Europa, o pequeno reino de Portugal se lançara ao mar em busca de riquezas e de aventuras. Na África, povos guerreiros milenares entravam em contato com os europeus. No século XVI, estas histórias se encontraram para dar origem a uma nova sociedade na América.

 SELVAGENS E PAGÃOS

O descobrimento do Brasil, em 1500,  foi um enorme impacto para a cultura européia. Um verdadeiro choque para os conquistadores portugueses foi encontrar uma terra com vegetação exuberante, frutos, flores e árvores nunca vistas  e animais completamente desconhecidos: araras azuis, macacos e macaquinhos de todos os tamanhos e cores, uma verdadeira festa para os olhos. 

O espanto ainda maior foi ver os indígenas, tranqüilamente nus, alegres, curiosos, enfeitados com penas coloridas, com colares feitos de sementes, pinturas com lindos desenhos pelo corpo... dançando, cantando, fazendo seus cestos de palha, trabalhando, enfim, e vivendo de uma forma completamente diferente da que os portugueses viviam. Os portugueses se perguntaram: Como entender esta outra cultura?

"Todavia, um deles fixou o olhar no Colar do Capitão e começou a acenar para a terra, como querendo dizer que ali havia ouro."

"Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma"


Estes são trechos da carta de Pero Vaz de Caminha, mandada ao rei de Portugal, dando conta do descobrimento e posse das terras do Brasil, pela esquadra de Pedro Alvares Cabral, em 1500.

Os diferentes artistas, escritores e sábios da Europa tentaram explicar o que era este Novo Mundo: o paraíso na Terra, um mundo de seres mágicos, um mundo cheio de mistérios e perigos, um mundo com seres humanos completamente selvagens e distantes de Deus, que deveriam ser salvos e civilizados. Esta última visão era a da Igreja  Católica, que queria aumentar o número de fiéis.
E os africanos, logo trazidos para o Brasil como escravos, também trouxeram muitas culturas diferentes. Trouxeram deuses, comidas, hábitos, músicas, danças, artes, e, mais do que tudo, uma maneira diferente de explicar o mundo, de viver em família, de mostrar sua visão sobre as coisas. Igualmente vistos com bárbaros e pagãos pelos portugueses, passaram a ter, assim, uma justificativa para serem escravizados.                                           Na palavra dos portugueses, reforçada  pela Igreja Católica, o trabalho escravo  traria estes seres humanos para o lado do bem, daria a estes homens e mulheres o caminho para a verdadeira Fé e o perdão de seus pecados. E, neste caso, não precisavam sequer se esforçar para entender as culturas africanas, tão ricas e tão diferentes. Consideraram que os africanos não tinham cultura, que tudo que faziam de diferente não passava de selvageria, feitiçaria e superstição, e lhes impuseram a sua fé e seus hábitos.





Mas a cultura é uma parte da vida das pessoas difícil de dominar completamente... A cultura aparece e se cria de diversas formas, e está no dia-a-dia, misturada no jeito de fazer comida, no jeito de cantar para fazer o neném dormir, nas músicas que se cantam no trabalho da roça ou na maneira de se construir uma casa. E, como tudo isso é cultura, não há como controlar suas manifestações.


Os portugueses obrigaram os índios e os africanos a aceitar suas crenças e seus valores como os únicos que valiam, mas no dia-a-dia, as diferentes formas de viver e de perceber o mundo se misturavam e davam um resultado novo. Este resultado novo deu origem às muitas cores e às muitas formas da cultura colonial brasileira.


Etnocentrismo é a valorização de uma cultura desvalorizando a outra. Logo, a diferença cultural é vista com inferioridade.

 CONVIVÊNCIA NO BRASIL COLONIAL.

Os portugueses eram os senhores e davam as ordens. Castigavam, mandavam, obrigavam a que fossem batizados na Igreja Católica, proibiam que tivessem suas religiões. Mas não podiam vigiar e controlar o tempo todo. E os escravos africanos iam para a lida na lavoura cantando suas cantigas  de trabalho; as amas de leite  e as escravas que cuidavam dos filhos dos senhores cantavam cantigas e contavam histórias de África; nas festas que os senhores permitiam, dançavam danças de sua terra, enfeitavam-se como lá e lembravam sua língua.

Os escravos  eram, muitas vezes, de povos diferentes e até mesmo rivais na África. Eles descobriram no Brasil, entretanto, como suas línguas e crenças religiosas de origem eram parecidas. Construíram, assim, uma identidade e união que seriam impossíveis em sua terra de origem. Muitas palavras que passaram a fazer parte da nossa língua vieram da África, trazidas pelos escravos.

Os índios, de igual maneira, introduziram muito elementos nesta vida cultural. A construção de casas de taipa, por exemplo, técnica tão útil no Brasil Colonial e até hoje usada com sucesso no interior do Brasil, é tradição indígena. As comidas que se comiam neste Brasil Colonial, era, em grande parte, o índio que ensinava como fazer ou conseguir. Afinal, eles conheciam a terra, os recursos, a arquitetura mais adequada para manter o interior da casa fresco no calor e protegida no inverno e na época de chuvas; os frutos comestíveis, a mandioca boa para cozinhar ou fazer farinha, a caça adequada para se comer. Tantas coisas indispensáveis para a sobrevivência. Com elas, introduziam a sua cultura alimentar, a sua técnica de construção, a sua arte.

ALGUMAS MANIFESTAÇÕES DA CULTURA POPULAR COLONIAL.

Desde que chegaram os portugueses, vieram os padres da Igreja Católica. Estes padres, ao procurarem  catequizar os índios brasileiros, tiveram que, antes, conhecer sua cultura e sua língua para se aproximarem e serem entendidos. E precisaram também atrair os  índios para a sua religião. Para isto, representavam peças de teatro sobre cenas da Bíblia e da história dos santos, faziam cerimônias religiosas com grandiosidade: muita música, cânticos, roupas e enfeites religiosos, velas acesas, incenso e muitos padres como celebrantes. "De encher os olhos", como se diz...

Estas peças, conhecidas como autos religiosos ou, simplesmente, autos, foram a origem do teatro brasileiro e, com a cristianização de muitos índios e africanos, incorporaram elementos da cultura destes povos nas peças teatrais.

O teatro religioso era bem popular e nas festas sempre havia um espaço para as representações, feitas, em geral, pelo povo das pequenas cidades do Brasil Colonial. E, assim, se viam muitas Virgens Marias  mestiças, mais de um São Francisco índio e Jesus Cristo  com a cara e a cor do povo daqueles lugares.

Nas festas religiosas também o povo da Colônia inseria sua música, seus bailes e seu gosto por alegorias e enfeites. Quanto mais cores, melhor. O melhor vestido, a roupa completa para escravos, os sapatos novos eram guardados para estas celebrações da cultura popular.

Fora do calendário religioso, havia as festa que celebravam as colheitas, as danças e folguedos nas feiras onde se ia comprar ou vender o gado, ou simplesmente folias das poucas horas de folga, onde era essencial extravasar as energias, cantar, bailar. Mesmo os senhores de escravos mais rigorosos sabiam que a tristeza não era boa conselheira e que alguma tolerância tinham de ter para estes folguedos. Nestes espaços, conquistados pelo povo no Brasil Colonial, entre muitas outras manifestações  culturais, se desenvolveram as muitas festas do Boi e folias negras como as Congadas, onde os africanos representavam seus reis e rainhas.

Em geral, havia pouca literatura sendo escrita no Brasil neste período. A população era quase toda analfabeta e, entre os que sabiam ler, os livros religiosos eram os que mais se liam, principalmente a Bíblia. Os padres eram também o setor mais letrado da população.







Os portugueses não conseguiram escravizar os indígenas? Porque trouxeram negros para o Brasil?
De fato não existem diferenças entre as raças. Contudo, o estágio cultural dos índios do Brasil dificultava muito o seu aproveitamento nos engenhos. Eles viviam ainda na pré-história, na Idade da Pedra. Não usavam roupas, não conheciam metais e a sua agricultura era rudimentar. Eram pouco resistentes a doenças trazidas pelos europeus como gripe e sarampo. Era tão difícil domesticar a sua natureza livre e selvagem que eles duravam pouco quando submetidos ao trabalho forçado. Os próprios jesuítas  incapazes de catequizar os adultos se dedicaram às crianças.

A Igreja não defendia os índios e os negros?
Na conquista da América a Igreja e a Coroa estiveram unidas. O soldado e o padre lutaram juntos, um conquistando pela força, o outro pela fé. Os jesuítas não eram contra a escravização, mas procuravam defender os indígenas do extermínio provocado pela guerra, pelas doenças e pela exploração desumana do trabalho escravo. Achavam que poderiam civilizar os índios e transformá-los em bons católicos.

Como se explica a importação de mão-de-obra africana?
 A entrada dos negros  se insere na busca de lucros do sistema colonial mercantilista. A venda de escravos africanos era um grande negócio, muito lucrativo, para os comerciantes e para a Coroa  portuguesa. E os colonos conseguiam mão-de-obra  qualificada pois havia escravos agricultores, pedreiros, carpinteiros, ferreiros, engenheiros de minas e fundição e mais cozinheiras, babás e domésticas.


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