quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Governo JK


OS ANOS DOURADOS 1956-1960


Juscelino Kubitschek se elegeu presidente, prometendo mudar o país, modernizá-lo, desenvolvê-lo num curto espaço de tempo - 5 anos. Como foi possível num momento de grave crise, provocada pelo suicídio de Getúlio Vargas, resgatar o otimismo e a esperança e governar dentro da legalidade? Nesta aula teremos uma noção da situação internacional daquele momento, como JK tornou possível o seu projeto desenvolvimentista e como a sociedade reagiu a todas essas mudanças.

1.  A Década de 50 e a "Bipolarização" do Mundo

No decorrer da década de 50, o Brasil é influenciado por um processo de divisão do Mundo em duas áreas de influência. É a chamada "Bipolarização".

Conseqüência da "Guerra Fria", que corresponde ao conflito ideológico entre EUA e a URSS, a bipolarização divide os países em dois "Mundos": O Capitalista e o Socialista.

O "Mundo Capitalista" é composto pelas "Democracias Liberais". A liderança norte-americana em termos político-militar e econômico é inquestionável. A integração do Brasil a esse contexto ocorre durante o governo do Gen. Eurico Gaspar Dutra
(1946-1951), quando são rompidas as relações com a URSS e o PCB colocado na ilegalidade.

Já o "Mundo Socialista", sob liderança, também inquestionável, da União da Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS, é integrado pelas chamadas "Democracias Populares".

Na Europa Oriental estão sob influência soviética a Polônia, a Bulgária, a Romênia, a Checoslováquia, a Hungria, a República Democrática Alemã e a Albânia. Na Ásia, a República Popular da China, a Coréia do Norte e o Vietnã do Norte.
Na América, Cuba.
Em termos econômicos, essa bipolarização produz outro tipo de divisão: os países ricos, desenvolvidos  ou do 1º Mundo, e os países pobres, subdesenvolvidos, ou 3º Mundo. Apesar do esforço desenvolvimentista do governo JK nosso país continuará integrado ao bloco do 3º Mundo.

2.  A Viabilização  dos Objetivos de JK

O governo JK passou para a História como um momento de estabilidade política e de grande crescimento econômico. Sem dúvida alguma ele conseguiu contaminar a população do período com otimismo e euforia, a partir do famoso lema
"50 ANOS EM 5".






Ao assumir a presidência,  Juscelino encontrou um país ainda perturbado pelo suicídio de Getúlio Vargas (1954). A UDN, juntamente com alguns setores militares, foram incansáveis na oposição à posse de JK, acusando-o de ser apoiado pelos comunistas e identificando-o ao getulismo que tentavam exterminar da política nacional.

Em meio a turbulência política e social era preciso garantir um mínimo de estabilidade  e de consenso, que permitisse governar. Apesar das pressões do empresariado para diminuição da interferência do Estado na economia, das greves do início do período, das crises militares e da oposição radical da UDN, a política de negociação de JK tornou possível a estabilidade.
Assim, a política econômica do governo que se abriu para o capital externo foi bem aceita por vários setores da sociedade brasileira.

Por outro lado, os trabalhadores viram a possibilidade, que nem sempre se concretizou, de fazer parte dos consumidores  dos novos produtos que invadiram o mercado brasileiro. Ao mesmo tempo, eram criados empregos através da expansão do parque industrial e da melhoria dos serviços urbanos.

A política desenvolvimentista também, beneficiou as forças armadas, que contaram com o aumento de recursos financeiros, permitindo uma melhoria nos recursos bélicos (armamentos), assim como nos transportes e nas comunicações. Além disso, muitos oficiais das Forças Armadas ocuparam posições importantes no Poder Executivo. Aqueles envolvidos em tentativas de golpe foram anistiados e não deixaram de ser promovidos.
A esquerda, duramente perseguida nos governos anteriores, era tratada por JK com tolerância. O PCB, considerado partido ilegal desde 1947, atuava junto aos sindicatos e muitos de seus membros participavam abertamente de manifestações e negociações.
Com relação a oposição udenista, que insistia em denunciar escândalos da administração pública e tentava impedir a aprovação dos projetos do Executivo, JK procurava manter uma posição conciliadora e pacífica.

Finalmente, para colocar em prática o Plano de Metas, as relações do Executivo com o Legislativo tinham que ser as melhores possíveis. Afinal o Congresso tinha o controle do orçamento do país, podia derrubar vetos presidenciais e criar as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI). A aliança PSD-PTB foi fundamental nesta relação, já que a maioria dos parlamentares   eram destes partidos e portanto foram em geral favoráveis aos projetos do Executivo.

Os órgãos criados e mobilizados pelo Executivo, formaram uma   "administração paralela", que deu uma grande capacidade de planejamento e independência do Executivo  em relação ao Legislativo. Estes órgãos estavam sob o controle direto da Presidência da República. O planejamento preciso, feito por técnicos destes órgãos, tornou fácil a aprovação financeira no Congresso, e isso acabou reforçando os poderes do Executivo.
Partidos políticos
UDN – União Democrática Nacional
PCB – Partido Comunista Brasileiro
PSD – Partido da Social Democracia
PTB – Partido Trabalhista Brasileiro






3.   Brasília:  "a síntese de todas as metas"

Símbolo maior do otimismo dos anos que ficaram conhecido como os  "anos dourados" foi sem dúvida a construção de Brasília, a nova capital do Brasil a partir de 1960.

JK dizia ter se resolvido pela criação da nova  capital em um comício, quando um popular lhe perguntara: "Já que o senhor se declara disposto a cumprir integralmente a Constituição, desejava saber se irá pôr em prática aquele dispositivo da Carta Magna que determina a transferência da capital da República para o planalto goiano." Juscelino respondeu que sim e transformou Brasília em sua meta síntese, fechando o programa de Metas.

Construir Brasília não significou apenas criar muito mais empregos, nem provocar uma onda migratória de brasileiros, que, além de construir uma nova cidade, esperavam uma vida melhor na nova capital. Brasília se transformou num símbolo  dos "50 anos em 5". Construí-la era prova de coragem, audácia, modernidade...
Porém, existe e outro lado da moeda. Construir Brasília nos custou muito caro. Os gastos com as obras foram elevados. Sua manutenção tornou-se excessivamente cara. A inflação ao final  do governo JK, teve na construção de Brasília um dos seus principais estimuladores.

No dia 21 de abril de 1960 a cidade idealizada por JK e projetada pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa foi inaugurada com muita festa e euforia...

4.   A Sociedade e a Cultura dos Anos Dourados.

Os anos do governo JK foram de efervescência social e cultural. O estilo moderno de vida estava invadindo as casas da classe média. As enceradeiras, liqüidificadores, panelas de pressão, as eletrolas de alta fidelidade e a televisão também eram acompanhadas por mudanças de comportamento.
A presença da música e do cinema americano influenciava nossa cultura. Nas grandes cidades cada vez mais adotava-se o "American way of life" quer dizer, o jeito americano de viver. O casamento, no entanto, por causa de nossas tradições católicas, continuava indissolúvel. O desquite era uma solução jurídica, contudo os desquitados não eram socialmente aceitos.

Nessa época, o automóvel, mais do que um meio de transporte, passa a ser um símbolo de status para as famílias. Para a rapaziada é um espaço sedutor para encontros íntimos, altamente desejado, mas cercado de proibições. As moças ainda não tinham "liberdade sexual".
Os jovens "moderninhos" adotavam os maneirismos próprios de uma "junventude transviada": correr de lambreta, usar jaqueta de couro e topetes caídos na testa. As moças usando o "slake", calça comprida feminina, dançavam o "Rock and Roll" e o "Twist". Lutavam por mais liberdades, sem, contudo, romper com estilo "moça de família" e casadoira.




Coca-Cola, chicletes e cigarros são produtos de consumo, indispensável para essa turma que ainda não se preocupava com as calorias, nem com o câncer do pulmão. Nessa época ainda não se conheciam bem os malefícios do açúcar e do fumo.

As poderosas indústrias fonográficas e cinematográficas dos EUA, invadiram as cidades com músicas e os filmes americanos, mas havia reações nacionalistas.

A música, o teatro, e até mesmo o cinema brasileiro são mais do que nunca ativos e revolucionários.
Exemplo disso é a "Bossa Nova", uma revolucionária mistura de jazz com samba e música clássica que revelou ao mundo grandes nomes da música brasileira como Vinícius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, entre outros. O novo estilo considerado inicialmente como desafinado, impôs-se pelo talento de seus compositores e intérpretes que cantavam acompanhados apenas de um violão.

Imagine uma peça de teatro escrita por Vinícius de Moraes com músicas de Tom Jobim e cenários de Oscar Niemeyer: é "Orfeu da Conceição", grande sucesso de 1956. Neste mesmo ano Maria Clara Machado  lança seus cadernos de Teatros que incentivam a criação de grupos amadores.
Outros clássicos do período são "Eles não usam Black Tie" de Guarnieri e "O Pagador de Promessas" de Dias Gomes. Oduvaldo Vianna filho, o Vianinha lança os grandes sucessos "Mão na Luva" e "Rasga Coração",  e Augusto Boal ganha o primeiro Moliére em 1963.

No cinema, as chanchadas da Atlândida revelam ao mundo grandes humoristas como Grande Otelo e Oscarito. Jô Soares estréia em 1959, no filme "O homem do Sputinik". Chico Anísio faz o povo rir pela TV a partir de 1960.
O cinema de arte tem grandes lançamentos de Nelson Pereira dos Santos, Roberto Santos e Ruy Guerra. Em 1962 o filme "O pagador de promessa" de Anselmo Duarte ganha a Palma de Ouro no Grand Prix de Canes.
Com os filmes de Gláuber Rocha, (Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe) o cinema de arte passa por uma revolução  de linguagem e de temas que o mostrou como Cinema Novo.

A grande liberdade que reina no país, permite a crítica social e incentiva a produção artística.
Há um certo orgulho romântico de ser brasileiro, e um espírito  de luta e otimismo.
Os estudantes ligados a UNE fundam o Centro Popular de Cultura-CPC, que pretende levar  cultura e conscientização política, para os trabalhadores, através da arte. Juntos estão artistas e intelectuais apoiando os estudantes.

Destacam-se no cenário internacional feitos como o de Maria Ester Bueno que venceu o campeonato final de tênis de Wimbledon em 1957; a conquista da Copa do Mundo pela Seleção Brasileira de Futebol, em 1958; o título de campeão Mundial de Boxe na categoria "peso galo" conquistado por Eder Jofre em 1960 e a eleição da Miss Universo Ieda Maria Vargas em 1963.






O TEMPO NÃO PÁRA...
A euforia não duraria muito. A política desenvolvimentista resolvera alguns problema, adiara outros tantos e criara outros novos. Entre eles, o aumento da concentração de renda na região sudeste e a inflação que ameaçava sair do controle. Na periferia de Brasília, a miséria das cidades satélites afirmava-se como o outro lado da modernidade alcançada.
As crises, temporariamente adiadas, reapareceram já no fim do governo de JK. A Aliança PSD-PTB começou a balançar com o grande crescimento dos petebistas, que ameaçaram o tradicional domínio do PSD, Por outro lado, cresceu a participação dos militares, solicitados pelos políticos civis, que consideravam as manifestações populares no campo e na cidade como atividades que podiam destruir a ordem. A campanha eleitoral para a sucessão do presidente Kubitschek substituiu o otimismo pelo moralismo do candidato Jânio Quadros, que se apresentou como aquele que poderia acabar com o "caos no país". 
A esperança dos "anos dourados" virou radicalização na década de 60 .

ATIVIDADES – OS ANOS DOURADOS

1.Releia o item 1 e explique o que foi a bipolarização do mundo?
2.Releia o item 2 e responda de que maneira JK  agiu para  alcançar seus objetivos em relação aos segmentos abaixo.
a.      capital externo:
b.      trabalhadores:
c.      Congresso Nacional:

3. Releia os itens 3 e 4  e explique por que havia um certo orgulho romântico de ser brasileiro:
4. Pesquisa: procure alguma coisa, notícias, fotos, filmes, músicas, objetos, enfim qualquer coisa sobre os anos dourados. Apresente para a turma.


FUNERAL DE UM LAVRADOR
 João Cabral de Mello Netto

Esta cova em que estás
Com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho
Nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande
É cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande
Para teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande
Para teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande
Para tua carne pouca
Mas a terra dada não se abre a boca


5. Este poema, que foi musicado por Chico Buarque, mostra como a produção cultural dos anos dourados ia fundo nos problemas sociais. Qual é a grande questão colocada nestes versos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário