quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A RÚSSIA E O LESTE EUROPEU PÓS URSS



Houve na Europa um holocausto anterior ao Holocausto que todos conhecemos e aprendemos na escola. Na Ucrânia, entre 1932 e 1933, quatro milhões de pessoas morreram de fome por causa das políticas implementadas pelo ditador da União Soviética, Joseph Stalin. Ele confiscou as terras e a produção agrícola dos camponeses ucranianos, em uma tentativa forçada de coletivização que deu bastante errado.

Esse genocídio foi mantido relativamente escondido do resto do mundo graças à repressão comunista e a ajuda de jornalistas alinhados com Moscou, que sabiam da história, mas preferiram mantê-la em segredo. O jornalista galês Gareth Jones, que falava russo, viajou pela Rússia e Ucrânia e revelou ao mundo as atrocidades cometidas pelos soviéticos. Em vários artigos publicados na imprensa inglesa, ele mostrou o resultado da perseguição feita por Stalin contra os camponeses ucranianos.




           Vamos conhecer o período posterior ao fim da União Soviética e do comunismo, e as transformações que isso acarretou nos países que já existiam e nos que se formaram a partir desse momento da história do século XX. 

          

A Rússia e as novas repúblicas da extinta União Soviética; 
as diferenças étnicas e os nacionalismos.

           Com o fim da União Soviética foi formada a CEI – Comunidade dos Estados Independentes, em 1991.  Das quinze maiores repúblicas que formavam a URSS doze se integraram a CEI e somente três optaram por não se integrarem: Estônia, Lituânia e Letônia.
           A Rússia, a maior das repúblicas desses estados independentes, tornou-se Federação Russa e agregou uma a série de repúblicas menores como repúblicas federadas. Observe com atenção os mapas .







Essas repúblicas independentes e a Rússia têm entre as suas populações uma enorme variedade de grupos étnicos – povos com características comuns como a mesma língua, mesma religião, gostos culturais comuns como música, comidas, roupas. 
           Durante o regime comunista da União Soviética todos esses povos foram mantidos sob o domínio dos russos, que são a maioria étnica dessas populações. Com seu fim, vários desses grupos étnicos, religiosos ou de nacionalidades diferentes procuraram formar Estados independentes, através de lutas separatistas. Vamos encontrar essa mesma situação em alguns países do Leste europeu.
          


           A região do Cáucaso é o principal palco de conflitos nacionalistas. Na região encontram-se mais de quarenta povos de diferentes etnias e religiões. Na região os conflitos ocorrem pelas disputas político-territoriais às quais somam-se as questões étnico-religiosas. Exemplo do que falamos é a guerra entre a Armênia e o Azerbaijão pela recuperação de uma parte de seu território que fora anexado ao Azerbaijão durante o período comunista. Além disso, a maioria Armênia é de cristãos ortodoxos e o Azerbaijão é muçulmano. A justificativa religiosa para o conflito foi que no território em disputa a maioria da população era de armênios cristãos.
A guerra da Chechênia pode ser um outro exemplo (o pior, no sentido de que guerras nunca são um bom exemplo), de como, os conflitos separatistas podem envolver questões étnico-nacionalistas, questões religiosas e questões econômicas.
           A Chechênia, que é uma pequena república situada no Cáucaso, região montanhosa da Ásia, cuja grande maioria da população professa a religião islâmica ou muçulmana, declarou sua independência em 1991, logo após fim da URSS, quando passou a fazer parte da Federação Russa. Entretanto continuou buscando sua autonomia total.
           Em 1994 a Rússia invadiu a república chechena originando uma guerra que durou até 1996, e matou mais de 50 mil pessoas. O fim da guerra não significou o fim dos conflitos que se estendem até hoje. Os separatistas chechenos, através de ações terroristas, procuram chamar a atenção para sua causa. A Rússia, porém, tem se negado a abrir negociações que visem à independência dessa região; que está muito próxima das reservas de petróleo do Mar Cáspio e é cortada por oleodutos que transportam esse petróleo para o abastecimento da Rússia e de outros países do Europa.


A Rússia no fim do segundo milênio

           A década de 1990 significou para a Rússia uma dura transição para o capitalismo e sua economia de mercado. As reformas econômicas nos governos de Bóris Ieltsin, promovidas nessa intenção não tiveram efeito para a maioria da população russa. A situação de suas industrias ultrapassadas que não podiam concorrer com as industrias ocidentais e os altos juros da dívida externa, entre outros fatores, levaram a uma grave crise econômica. Em 1998 a Rússia não resistiu e seu governo declarou a Moratória (um aviso aos credores internacionais que vai parar de pagar suas dívidas). Como vivemos em uma economia já globalizada, a crise da Rússia afetou o mundo todo.  Os Estados Unidos e outros países da Europa se mobilizaram e o Fundo Monetário Internacional – FMI, liberou um empréstimo emergencial para a Rússia no valor de 22 bilhões de dólares.
           As questões sociais na Rússia se aprofundaram com a crise econômica. Os salários são muito baixos e o desemprego é grande. Cresceu o mercado informal de produtos de contrabando. Surgiram,  principalmente nas grandes cidades, organizações criminosas: as máfias russas. Essas máfias controlam várias atividades econômicas, legais ou ilegais, como por exemplo, o contrabando, o tráfico de drogas e o tráfico de pessoas. Esse último é um problema que passou a afetar também a outros países da região e do Leste europeu.
           O agravamento da crise levou à renúncia de Boris Ieltsin em 1999. Assumiu o governo Vladimir Putin, funcionário do serviço secreto russo, antiga KGB da época da União Soviética. Putin conseguiu controlar a crise e melhorar a economia russa, sendo reeleito em 2000. Adotou uma política mão-de-ferro no que se refere a negociar a separação da república da Chechênia. E as conseqüências dessa política se fizeram sentir em eventos sangrentos como o massacre da cidade de Beslam, na Ossétia do Norte. (ver box), em setembro de 2004.




“A festa do Dia do Saber na Rússia, que marca o início do ano letivo, no dia 1 de setembro de 2004 se transformou num pesadelo em Beslan, quando a escola número 1 foi tomada por um comando checheno. Os terroristas, 32 segundo a versão oficial, se entrincheiraram na escola com seus reféns como escudos humanos. Suas exigências eram o fim da guerra e o reconhecimento da independência da Chechênia.
Às 13h05 do dia 3 de setembro, 52 horas depois do começo do seqüestro, houve uma explosão, possivelmente acidental, segundo a investigação oficial, no ginásio onde os terroristas mantinham seus reféns. E então começou o massacre. Alguns parentes das vítimas e testemunhas garantem que a explosão foi resultado de um tiro de canhão de um dos carros de combate que cercavam a escola. Outros afirmam que as forças de segurança usaram lança-chamas.
O único terrorista sobrevivente do comando checheno, Nurpasha Kulayev, foi julgado e condenado em maio de 2006 à cadeia perpétua. Numa reunião com mães que perderam seus filhos em Beslan, o presidente da Duma (Câmara dos Deputados), Boris Grizlov, disse hoje que as perícias pedidas pela investigação ficarão prontas em janeiro de 2008”.
(01 de setembro de 2007 http://www.noticias.terra.com.br )


 O Leste europeu

           O final da década de 1980 do século XX e a década seguinte trouxeram uma onda de transformações políticas e econômicas que varreu a Europa Oriental, trazendo à tona antigos conflitos étnicos e questões nacionalistas. Também nessa região, como ocorreu na extinta União Soviética, surgiram novos países e desapareceram outros, como a Alemanha Oriental, mudando suas fronteiras geográficas e políticas.
           A Tchecoslováquia deu origem a duas repúblicas: a Eslováquia e a República Tcheca, o que ocorreu em uma transição pacífica.
           Na Iugoslávia, guerras como a da Bósnia (1992 -1995), onde morreram milhares de pessoas, se tornou um outro exemplo cruel de conflito resultante de questões étnico-nacionalistas.  Historicamente essa região sempre foi muito conflituosa e onde as questões religiosas e políticas sempre serviram de estopim para guerras e conflitos.

A guerra da Bósnia

           A Iugoslávia até o início da década de 1990 era formada por seis repúblicas: Sérvia, Croácia, Montenegro, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia, mantidas unidas durante o regime comunista. Como você já deve imaginar as populações dessas repúblicas são formadas por diferentes grupos étnicos. Com o fim do regime comunista, em 1991, a Croácia e Eslovênia se declararam independentes, enfrentando um conflito com os sérvios que se opuseram à independência. Em 1992, a Macedônia e a Bósnia também se declararam independentes.
           Os sérvios não aceitaram a Independência da Bósnia, região onde a população estava dividida entre bósnios (muçulmanos), croatas, e sérvios que eram cerca de 30 % dessa população. O governo iugoslavo invadiu a região com suas tropas sérvias e se iniciou um conflito pela disputa do território com mulçumanos e croatas. As tropas sérvias, exacerbando princípios nacionalistas, passaram a matar civis muçulmanos e croatas, com objetivo de fazer uma limpeza étnica na região. A guerra durou até 1995 quando tropas internacionais pressionaram os sérvios a recuar e a assinar a paz.
           Em 1998 um novo conflito ocorre na região, quando a província de Kosovo, com uma população muçulmana com origem albanesa, tenta se tornar independente da Sérvia. A reação sérvia é brutal e leva a uma grande quantidade de refugiados dessa região. Uma nova intervenção de forças militares internacionais força um acordo e coloca Kosovo sob a proteção da ONU.
           Nesse início de século XXI, da antiga Iugoslávia restam Sérvia e Montenegro que negociam com supervisão da ONU tornarem-se dois estados totalmente autônomos.

A transição econômica no Leste europeu e Rússia

Os países do Leste europeu procuraram, após o fim do comunismo, adaptar suas economias ao sistema capitalista. Medidas econômicas como a privatização de empresas estatais, a diminuição dos investimentos em gastos sociais e a liberalização de importações foram adotadas.
           Em muitos deles essa transição, como na Rússia, esbarrou nas condições desfavoráveis em que se encontravam as suas indústrias que precisavam se adaptar as novas tecnologias para serem competitivas nesse novo mercado. Com o fechamento de muitas dessas indústrias, o desemprego aumentou, o que levou ao aumento de um mercado informal de trabalho. Soma-se a isso a ocorrência de uma queda na produção agrícola, embora a maioria dos países do Leste ainda possuam uma grande parte das suas populações morando no campo.

Sobre a Rússia no inicio do século XXI escreveu o jornalista Fen Montaigne da revista National Geographic:
“Grande parte da economia russa está centrada em Moscou, onde uma classe média palpável emergiu. Mesmo assim, outras tantas cidades vingaram e se tornaram muito ativas (...) Muitas empresas de maior sucesso se concentram em atividades que mal existiam na URSS, tais como as de software, processos sofisticados de produção de alimentos, restaurantes e publicidade.(...)
É preciso dizer que histórias de sucesso financeiro – e dos trabalhadores de classe média associados a elas – ainda são ilhas num mar de estagnação. Os salários oficiais da maioria dos trabalhadores russos giram em torno de US$ 100 por mês, embora muitos tenham rendimentos não declarados. Estima-se que 20 milhões de pessoas, de uma população total de 145 milhões, viva abaixo da linha da pobreza, com US$ 31 mensais per capita. A sonegação fiscal é endêmica e algo como 25% a 40% da economia, calcula-se, corre por baixo do pano. Além disso todos os anos a tênue camada de russo super ricos, temendo a instabilidade geral e um turbulento sistema bancário, remte a bancos no exterior entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões, grande parte gerada pelas vendas dos abundantes recursos naturais do seu país.”

Como podemos ver, ainda há muitas dificuldades a serem enfrentadas nessa transição econômica. No caso do Leste, um dos caminhos que vem sendo trilhado é o de uma maior integração com a Europa.

A entrada na União Européia

           Para a grande maioria dos países e das populações do leste, com exceção talvez da Polônia, da República Tcheca e da Eslováquia as mudanças para o sistema de livre mercado capitalista representaram uma queda de qualidade de vida na última década do século XX.
Muitos dos habitantes do Leste e das Repúblicas da CEI tem imigrado para países da Europa ocidental, como Portugal e Espanha, depois que países como Inglaterra, Alemanha e França dificultaram a entrada de estrangeiros. São Romenos, ucranianos, búlgaros, georgianos e russos, entre outros. Normalmente vão encontrar colocação na construção civil e no setor de serviços das grandes cidades. Fugindo das crises provocadas pela transição capitalista, eles vão à procura de melhores condições de trabalho e de vida nessa outra parte da Europa onde o capitalismo já é um velho conhecido.
           Outra maneira de entrar nessa “outra” Europa é fazer parte da União Européia esse grande bloco que engloba a economias mais desenvolvidas e industrializadas do continente. Em maio de 2004 oito países do leste europeu, Polônia, Letônia, Estônia, Hungria, Eslováquia, Lituânia, Eslovênia e República Tcheca ingressaram na União Européia. Romênia e Bulgária ingressaram em janeiro de 2007. Parece que a transição para o capitalismo nessa região do leste europeu vem alcançando algum sucesso. Embora venham a ser os membros mais pobres da União Européia poderão contar com os investimentos e a ajuda econômica dos outros países do bloco. No caso da Rússia, o abismo social entre os novos milionários russos e a maioria da população e os conflitos separatistas de natureza étnica deverão ser os maiores desafios nesse início do século XXI.

Cordilheira do Cáucaso, mais de 1400 km

6 comentários:

  1. ARTIGO DE UM PANACA OU UM MENTIROSO QUE NÃO FALA A VERDADE, QUE A RÚSSIA É COMANDADA PELO COMUNISTA PUTIN! A EUROPA DO LESTE E CHEFIADA POR EX-COMUNISTAS E O COMUNISMO SÓ MUDOU A SUA CARA, MAS SÃO OS MESMOS BANDIDOS COMUNISTAS QUE ESTÃO NO PODER! VAI ENGANAR OS TROUXAS QUE NÃO VIVERAM CONOSCO NA TIRANIA COMUNISTA, SEU BABACA DE COMUNA CAVIAR-LIBERASTA!

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  2. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

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  3. Ótimo artigo. Estava procurando leitura complementar para um trabalho da pós em RI sobre os nacionalismos no leste europeu pós guerra-fria. Obrigada! Sugestão, você deveria deletar esse comentário patético e grosseiro acima.

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