IT’IS ONLY WORDS
O som dos Bee Gees. São só palavras,
mas é com elas que eu ganho a vida. Demorei a me alfabetizar, mas depois que
aprendi a escrever gostei, e gostei cada vez mais até viciar nas palavras,
especialmente as escritas. Gostava de aprender palavras novas, de soletrar, de
saber exatamente a acentuação.
Uma vez chegou lá em casa um caminhão de sucatas da
firma em que o meu pai trabalhava. Nossa casa tinha um grande galpão que servia
de oficina de marcenaria do meu pai e às vezes de depósito. Vieram uns
cadernões nos quais se escreviam livros razão e livros caixa e de atas, talões
de pedidos e notas fiscais. Tudo coisa antiga, mas sem uso, de mais de trinta
anos, possivelmente dos anos 1930 a 1950. As notas e talões viraram excelentes
blocos pra gente rabiscar, desenhar, fazer contas e tudo o mais. Já os livros
encadernados de papel de excelente qualidade atraiam a boa caligrafia. Minha
letra não era lá essas coisas, mas eu gostava de caprichar usando a caneta tinteiro, presente do meu pai
quando terminei o primário. Um servia para fazer trabalhos escolares e noutro
passei a escrever uma inusitada história de piratas. Era difícil manter os meus
escritos a salvo da sanha assassina e destruidora de letras alheias dos meus
irmãos menores. Para o João e especialmente para Íris, a caçulinha, se eu fazia
algo com tanto interesse por que eles não iriam me ajudar e se divertir também?
Era só eu me descuidar e lá iam eles rabiscar nos meus preciosos cadernos e
esquece-los nos sol e na chuva. O livro de piratas era tão bem escondido que
nem mesmo sei mais onde está. Perdeu-se no tempo e no espaço, foi pro beleléu e
a história nunca se acabou... bem, não tenho muita certeza. Esses tais “Piratas
do Caribe” me soam tão familiar...será que...não, impossível. Hahahhha!
Eu sempre gostei de escrever em
cadernos encadernados, esses de capa dura. Tenho vários, cheios de poesias,
discursos, crônicas...e letras de músicas que eu gosto de cantar me
acompanhando no violão. Dois deles também foram severamente mutilados por outra
criancinha encantada pelas letras que eu fazia - Patrícia, minha filhotinha e
legítima herdeira de minha devoção. No
entanto os frangalhos dos cadernos e mais as muitas anotações garatujas que ela
fez nos outros são marcas indeléveis da paixão dela pelas letras manuscritas.
Ela tem uma bela caligrafia e muitos cadernos desde a infância. Quando foi para
o colégio interno comprei para ela, na livraria da Travessa, um lindo note book,
de folhas brancas. A metade escrevi com caneta Mitsubishi uni ball preta, os
pensamentos mais preciosos para mim, pela beleza, pela poesia, pela sabedoria.
Pati escreveu alguns e me deu de volta pra eu ler e escrever mais.
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