A
tardinha deixamos a aldeia de Urucureá. Na água imagens douradas das coisas
dos homens e da floresta: tamanduá, reflexo de um cão que se alongava, doble
barco, árvores que se retorciam como
enfeites natalinos, o jardim aquático do Igarapé, como uma pintura de Monet.
A
itaúba deslizou mansa.
Sobre
o teto da embarcação degustei o ar crepuscular em largos sorvos
contemplativos:
a
densa floresta nas margens e o espelho negro das águas do braço do rio
Arapiuns.
Um
clarão sob as nuvens na margem esquerda anunciava o nascer da lua cheia, logo
após avistada a primeira estrela.
No
grande rio descortinamos o cenário planetário.
Lua,
luz negra prateando a escuridão, o sons da mata, o som da água.
O
comandante Rios espetou a proa do Esperança II numa pequena praia em forma de
ferradura. Céleres catamos lenha. Em pouco tínhamos uma fogueira. Ao lume
estendemos cangas e iniciamos a cantoria.
A
lua, a estrela da noite, bem bancava a prima-dona, escondendo-se no cortinado
esperando aplausos para tornar a aparecer. Então incendiava os ares dançando
com seus véus.
À argêntea luz subiram nossos uivos.
Noite
alta o banho de lua. A tepidez da água, o ar suave da noite. Mãos quebrando o
espelho lunar. Eu lunático. A voz, os sons da floresta, tambores, o córdio
bater amplificado. A respiração dos botos como muitas pessoas nadando em
silêncio.
Sensação
de ser, pertencer...
Nestor - Rio Arapiuns, Pará - Julho de 2003
itaúba - madeira da qual são feitos os barcos na amazônia
argêntea - a cor da prata
|
|
Aulas, artigos, fotos, poemas, causos, contos, coisas que vejo, escrevo e relaciono com o ofício de historiador.
quarta-feira, 21 de setembro de 2016
LUAU NO RIO ARAPIUNS
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário